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Cartoonistas africanos desenham com restrições

Costa Pinto, Maria Joao Miranda4 de junho de 2013

A liberdade de imprensa está ainda longe de ser conquistada em África. Uma imagem vale mais que mil palavras, pelo que em alguns traços o cartoonista pode incomodar figuras influentes.

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O ex-Presidente da Tanzânia, Benjamin Mpaka, encara com leveza as suas caricaturas que surgem nos jornais, afirmando que "já nem se lembra do seu próprio rosto", referindo-se aos muitos retratos satíricos da sua cara.

Durante o seu mandato de dez anos, entre 1995 e 2005, os cartoonistas gozavam de uma grande reputação. Mas esses dias chegaram ao fim. "Não é nenhum segredo que a liberdade de expressão nos nossos países africanos ainda seja subdesenvolvida", diz Samuel Mwamkinga, cartoonista da Tanzânia.
Samuel Mwamkinga venceu, recentemente (25.05), o terceiro lugar do concurso internacional de cartoons, organizado pela Rede de Jornalistas do Terceiro Mundo. Este ano, o concurso teve como tema "50 anos de Unidade Africana". Com o cartoon intitulado "Jogo de tração com corda", Mwamkinga procurou desenhar os desafios na União Africana em situações de conflito.

Comparando o seu trabalho com o dos seus colegas de jornais impressos, Mwamkinga considera: "os jornalistas 'normais' podem simplesmente escrever os seus artigos. Mas é extraordinário: um cartoon com a mesma afirmação tem um peso muito maior. Por isso, perguntamo-nos sempre: se eu desenhar isto agora, o que é que acontece? Tenho sempre de garantir que não traz problemas ao meu jornal".

Obstáculos no próprio jornalismo

Muitas das vezes, o editor responsável pelo cartoon é o principal obstáculo para o jornalista. John Curtis, que ganhou o primeiro lugar da competição, conhece este problema também na África do Sul, embora o país tenha a maior tradição de cartoons do continente.
A tradição "cresceu muito desde a libertação democrática na África do Sul e provavelmente está agora no seu auge, embora haja receio de novas restrições a cartoonistas e jornalistas", teme o cartoonista.

John Curtis e John Swanepoel, conhecidos na África do sul como "Dr. Jack & Curtis" participaram, este ano, pela primeira vez na competição, tendo ganho com o cartoon "Já chegamos?" (na capa do artigo).

Novas tecnologias ajudam em assuntos tabu

A situação da liberdade de imprensa nem sempre é um indicativo da cena cartoonista de um país. Um exemplo é a República Democrática do Congo, de onde provém mais de 70 candidatos da competição internacional de cartoons. Isto, apesar de o país ocupar um dos últimos lugares no ranking da liberdade de imprensa publicado, todos os anos, pela organização Repórteres sem Fronteiras.

Annette Pickert Hornung, membro do júri do concurso, vê tendências positivas na vida dos artistas políticos africanos, com a ajuda das novas tecnologias: "o trabalho dos cartoonistas mudou totalmente. Agora trabalham com iPad. Por exemplo, o nosso vencedor do Quénia, Victor Ndula, distinguiu-se apenas com o iPad, que tem sido um escritório sem papel".
Nos momentos em que o editor rejeita o desenho, de acordo com Hornung, a internet é uma alternativa para a sua publicação. O que é válido para assuntos considerados tabu, que muitos cartoonistas do continente evitam ao máximo.

A religião é um aspecto que não é tratado da mesma forma desde o caso dos polémicos cartoons de Maomé. Mas Samuel Mwamkinga dá outro exemplo: o casamento homossexual.

De acordo com o artista, muitos cartoonistas sentem que não são levados a sério: "talvez porque produzimos algo engraçado. Quando faço um cartoon e volto a casa, ninguém sabe quanto tempo é que levei a desenvolver uma ideia. É desencorajador quando as pessoas não se reconhecem nos media, satisfazendo plenamente a nossa profissão", conta Mwamkinga.

Trabalhando há 20 anos como cartoonista, Samuel Mwamkinga afirma que poderia viver deste trabalho. Mas, para os principiantes, é difícil. O mesmo se aplica à África do Sul, de acordo com John Curtis. Se uma imagem vale mais que mil palavras também um cartoon deveria ser pago tal como mil palavras, argumenta o cartoonista.