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Candidatura a deputado nacional virou moda na Guiné-Bissau

Braima Darame (Bissau)
19 de janeiro de 2019

24 partidos concorrem aos 102 assentos do parlamento. No entanto, diferem os motivos e objetivos da candidatura de cada um. Há quem procure apenas "mordomias" ou "imunidade parlamentar", diz analista.

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UN verschenkt Wahlmaterial an Guinea-Bissau
As eleições na Guiné-Bissau realizam-se a 10 de março.Foto: DW/B. Darame

O Supremo Tribunal de Justiça afixou as listas que os partidos entregaram e que evidenciam que quase toda a gente "quer ser deputado na Guiné-Bissau".  Empresários, juristas, professores, jornalistas, paramilitares, jovens emigrantes, pastores, desportistas, entre outros, figuram nas listas dos partidos.

24 partidos para menos de um milhão de eleitores

Em entrevista à DW África, o analista político Lourenço da Silva, afirma que é de "saudar que haja uma tomada de consciência da grande maioria da camada juvenil" para a situação atual do país.

Aos olhos deste analista, "há uma nova tendência da classe [jovem] em integrar a vida política ativa para dar a sua contribuição. O que é deplorável é ver que estamos numa situação em que podia ser balizado o cenário melhor para diminuir essa proliferação, não só dos partidos, mas também dos candidatos a deputados. Porque é um desperdício, no meu ponto de vista, ter 24 partidos políticos às eleições para menos de um milhão de eleitores, e ter milhares de candidatos para apenas 102 cadeiras de deputado".

Quais os verdadeiros interesses?

Lourenço da Silva diz que é compreensível esta proliferação de candidaturas a deputados no país, uma vez que, constata, "tem sido moda na Guiné-Bissau".

Candidatura a deputado nacional virou moda na Guiné-Bissau

"As pessoas vão lá porque sabem que depois das eleições, são eleitos deputados, são nomeados para cargos executivos ou podem beneficiar de mordomias pela contribuição que deram durante as eleições, por um ou outro partido", explica.

Ou seja, diz, muitos dos candidatos "não vão lá por nenhuma ideologia política, nem se quer projeto. Não levam em conta qualquer problemática que tenha a ver com a própria sociedade para a qual se candidatam para esse cargo. Há ainda a situação dos que vão lá porque alguém os arrastou por causa de uma conveniência profissional, étnico-religiosa ou familiar".

Em busca da "imunidade"

Lourenço da Silva, que liderou durante vários anos organizações da sociedade civil guineense, sublinha ainda o facto de haver muitos antigos e atuais governantes, empresários e outros, que lutam a todo custo para ser deputado apenas para ter a imunidade parlamentar, podendo assim fugir à justiça por alegadas corrupções ou crimes que praticaram.

Halen Napoco
Halen Napoco, candidato Foto: DW/B. Darame

Halen Napoco é um dos candidatos. Este jovem jurista concorre a deputado no círculo eleitoral 27, e é uma das muitas estreias. Em entrevista à DW África afirma que deixa o seu escritório de advocacia e consultoria jurídica para ajudar a implementar mudanças necessárias no aparelho de Estado.

"Reformas no Estado precisam-se", diz candidato

"Temos que ser capazes de identificar os problemas cujas soluções teriam um efeito dominó na nossa sociedade. Falei na necessidade da criação de instituições fortes, capazes de se afirmarem como autoridade na nossa sociedade”, diz este jurista que entende também que são necessárias mudanças no campo da justiça: "não podemos ambicionar mais investimentos, mais educação, mais saúde, se não formos capazes de chamar à responsabilidade os servidores públicos, os dirigentes políticos", diz.

O conhecido jovem advogado da praça pública afirma ainda que se dedica à política para lutar no sentido de garantir a despartidarização da administração pública com urgência: "a partir do momento em que começamos a debater sobre a importância de termos uma administração acima de qualquer interesse partidário, aí sim estaremos a criar condições para que haja  produção de soluções que vão de encontro com as necessidades das populações. É um desafio da geração. Esta geração deve quebrar esses tabus que existem no aparelho de Estado", afirma.

Também o jovem Mamadú Iaia Djaló decidiu fundar, em setembro do ano passado, o partido Aliança Para República (APR), com o qual pretende disputar o poder. Despertou a curiosidade dos guineenses por se apresentar nas reuniões sozinho, tal como sucedeu no ato da entrega das candidaturas no Supremo Tribunal, e concorre num único círculo eleitoral, por ser também único candidato do partido.

Recorde-se que o Supremo Tribunal de Justiça está a analisar a lista das candidaturas entregues pelos partidos políticos, enquanto se debate nas ruas esta nova tendência do país de ser deputado. 

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