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Cabo Delgado: Raparigas forçadas a casar com terroristas

António Cascais
6 de julho de 2024

ONG Save the Children denuncia que a escalada do conflito em Cabo Delgado aumentou em 10% o número de casamentos infantis em 2023. As raparigas estão mesmo a ser forçadas a casar com membros de grupos terroristas.

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(Foto ilustrativa)
(Foto ilustrativa)Foto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

Vários interlocutores contactados pela DW África confirmam o cenário. Por outro lado, os próprios pais e familiares procuram o chamado "dote”, ou seja "são compensados monetariamente” pelos raptos e usam esse dinheiro para alimentar a sua família, até porque "o conflito reduziu rendimentos".

A DW África entrevistou Paula Sengo, da ONG Save the Children Moçambique, precisamente na província de Cabo Delgado. E é uma das autoras de um novo relatório com o título "Análise de Género e Poder sobre Uniões Prematuras na Província de Cabo Delgado".

DW África: Como descreveria a situação das meninas e jovens no contexto do conflito armado que se desenrola em Cabo Delgado há 7 anos?

Paula Sengo (PS): É extremamente preocupante, dado que mais do que nunca estamos a ver que particularmente as raparigas têm sido expostas a situações de violência e abusos. Enquanto a insegurança prevalecer nessas zonas, estas estarão mais expostas a estes sinais. As raparigas têm estado expostas a situações de abuso sexual, abuso fisíco, situações de negligência, exploradas sexualmente, incluindo sexo transacional para poderem obter alimento ou poder ajudar no sustento das suas famílias.

DW África: Soube de casos concretos em que raparigas foram obrigadas a casar com membros de grupos terroristas?

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PS: Durante a nossa conversa com as crianças e com os pais, nós tivemos relatos de raparigas que de forma indiscriminada foram raptadas. Existiam, sim, pais que decidiram ser melhor colocar as suas filhas em uniões prematuras na expetativa de ter dinheiro ou um homem que as pudesse proteger. Houve pais que por iniciativa própria ofereceram as suas filhas. Assim que o medo se instalou, esta situação começou durante os ataques armados, começou a ser por obrigação, de forma forçada, através do rapto. Há exemplo de raparigas que conseguiram fugir, escapar do cativeiro, e que hoje em dia têm sinais de stress psicológico muito acentuados.

DW África: O facto dos jihadistas se apoderarem de meninas faz parte da ideologia? O que sabe sobre isso?

PS: Já há relatos, sim, com evidências claras de que estãs são algumas das formas que os grupos têm estado a usar para ocupar alguns espaços e nalgum momento até intimidar as populações. Dentre outras estratégia que eles têm estado a usar.

DW África: Perante esta situação, quais as medidas que as autoridades deveria tomar imediatamente, na sua perspetiva?

PS: Nós apelamos que o conflito armado deve cessar. Achamos que deveria investir mais em programas que criassem resiliência e recuperação das populações afetadas. Achamos também que seria importante melhorar os mecanismo de coordenação para realmente termos um programa muito integrado.

DW África: E é possível ONGs como a Save the Children continuarem ativas no terreno, nas áreas mais efetadas pelo terrorismo como os distritos de Macomia, Palma ou Mocímboa da Praia?

PS: É possível, mas muito difícil e desafiador. Enquanto a insegurança se mantiver, muitas destas organizações não acedem as comunidades, porque é muito difícil viajar até as comunidades e é difícil operar nestes mesmos terrenos.

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