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Cabo Delgado: Ataques e medo deixam aldeia deserta

Lusa
25 de fevereiro de 2024

Mmala, aldeia em Cabo Delgado, tinha mais de 11 mil pessoas, mas dois ataques dos terroristas levaram a população a fugir nos últimos dias com crianças ao colo, carregando à cabeça o pouco que escapou à destruição.

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Cabo Delgado
Mmala fica no posto administrativo de Chiùre-Velho, o mais afetado pelos ataques em Cabo Delgado nos últimos dias (imagem ilustrativa)Foto: AFP/M. Longari

“Primeiro passaram e mataram duas pessoas, passaram em redor da aldeia, passou um dia, no dia seguinte passaram de novo e mataram seis pessoas e queimaram um cubículo do hospital e da escolinha”, descreve à Lusa Lourenço Ancuara, o chefe da aldeia.

Face a isto, a solução tem sido fugir à pressa, nomeadamente para a vila de Chiùre, hoje o último reduto de alguma segurança nas proximidades. Ainda assim, uma viagem de três dias a pé, por campos agrícolas e estradas, num movimento de milhares de pessoas em simultâneo.

Mmala situa-se no posto administrativo de Chiùre-Velho, o mais afetado pelos ataques terroristas na província de Cabo Delgado nos últimos dias, e dista 50 quilómetros de Pemba, capital provincial, percurso que leva mais de três horas a percorrer de carro, numa estrada em permanente ameaça de novos ataques.

Lourenço Ancuara, acabado de chegar à vila de Chiùre, conta que a aldeia ficou deserta: “Ninguém, todos nós abandonámos lá (…) Tenho lá 11.014 habitantes. E não está ninguém lá, abandonaram. Ninguém trouxe nada, saímos só assim mesmo”.

Chegam a pé, de bicicleta, algumas crianças de poucos anos ainda a dormir, depois de noites de medo.

Os ataques ao longo da última semana deixaram a aldeia, onde todos, nas várias comunidades, se dedicam às machambas da agricultura, vazia.

Por agora, ainda não há esperança de regresso e o chefe da aldeia só pede ajuda para os milhares que fugiram de Mmala para outras povoações: “Ainda não temos apoio, não sei se vão nos dar”.

Em Mujipala, comunidade da aldeia de Mmala, vivia Sousa Américo, um camponês de 40 anos. Ao fim de três dias de caminhada com os cinco filhos e centenas de outras pessoas, chegou a Chiùre.

Symbolbild | Im Norden Mosambiks sind 50 Zivilisten von Dschihadisten ermordet worden
Após meses de relativo regresso à normalidade, Cabo Delgado tem registado novas movimentações e ataques de grupos rebeldesFoto: AFP/J. Nhamirre

"Está tudo vazio"

“Lá não mataram ninguém, só que queimaram as 47 casas. Está tudo vazio (…) Chegámos aqui sem nada, estamos a sofrer de fome e a pedir apoio”, desabafa, ainda à entrada de Chiùre, antes de partir para um dos três campos de reassentamento provisórios em escolas que, segundo dados da autarquia, já recebem atualmente 13.000 deslocados na vila, além dos que procuram abrigo em casas de amigos e familiares.

“Lá ninguém está mais. Está tudo vazio”, descreve, receoso com o futuro, enquanto pede apoio.

“A população de lá está aqui sem nada. Estamos quase no alto mar”, lamenta ainda Sousa Américo.

Mustafa Emílio, de 45 anos, também acaba de chegar a Chiùre, que antes desta onda de deslocados contava com 75 mil habitantes. Chegou à espera de refúgio numa casa de familiares.

“Não conseguimos trazer nada. Saímos sem nada”, desabafa.

Pelo menos, diz-se tranquilo por ter conseguido trazer, numa caminhada de mais de três dias de muitos medos, a mulher, os filhos e as irmãs.

Só não percebe porquê: “Eu não sei o que esses malfeitores precisam. Só nos fazem sofrer”.

Após vários meses de relativo regresso à normalidade nos distritos afetados pela violência armada, a província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, tem registado há algumas semanas novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, provocando novas vagas de deslocados.

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