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Cabo Delgado: Indicadores de segurança ainda causam medo

23 de outubro de 2023

Analistas dizem que regresso de populações às aldeias tem sido gradual e lento por pairar ainda o receio de eventuais ações de insurgentes, principalmente nas localidades onde não estão presentes as forças ruandesas.

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Pessoas numa fila para receberem assistência humanitária em Quionga, Cabo Delgado, em MoçambiqueFoto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

A situação em Cabo Delgado tem tendência a estabilizar nalgumas zonas, sobretudo desde que se iniciou a intervenção militar ruandesa, concentrada à volta do triângulo Mocímboa, Palma e Afungi, área de exploração do gás, assegura João Feijó, do Observatório do Mundo Rural de Moçambique (OMR).

"Nessa zona há um regresso a alguma normalidade, sobretudo à volta de Afungi. Foi possível recuperar a segurança e o regresso das pessoas, bem como o retorno de algumas atividades económicas, de agricultura, de pesca e de comércio", conta.

Há muita migração de pessoas que vêm do sul da província, não só deslocados", adianta Feijó, que diz que "há uma grande expectativa que a Total [Energies] regresse e, então, há um movimento populacional que faz com que aquela zona de Palma hoje tenha mais população do que tinha antes do conflito".

Medo prevalece

O académico refere que, hoje, a ação de grupos insurgentes é menor”, comparado com 2020 e 2021. Mas, admite que tais grupos continuam ativos, fazendo pequenos ataques, sobretudo ao longo da bacia do rio Messalo até as baixas de Muidumbe, assim como na costa a sul de Mocimboa até Macomia, zonas de difícil acesso devido à sua geografia e que não contam com a atuação das tropas ruandesas.

Os indicadores de insegurança, acrescenta, ainda provocam algum receio entre as populações que querem voltar às suas aldeias.

Mosambik | Rohstoffseminar: Joao Feijó - Exekutivsekretär des mosambikanischen Zentrums für Studien und Forschung
João Feijó, investigador do Observatório do Meio Rural (OMR)Foto: DW

"As pessoas têm medo de ir para zonas muito isoladas, sobretudo no distrito de Mocímboa da Praia e de Macomia. Isto é um indicador de que ainda há alguma insegurança."

Luís Bernardino, professor da Universidade de Lisboa, especialista em segurança e defesa em África, tem acompanhado a missão da União Europeia em Moçambique, integrada nas forças internacionais de manutenção de paz.

Relevância da comunidade internacional

O investigador português considera que "há melhoria" na área da segurança em Cabo Delgado, mas trata-se de uma "melhoria aparente", porque ainda não desapareceu a ameaça terrorista.

"O que existe é uma ameaça latente de pequenos grupos que fazem flagelação, que obviamente têm ainda um papel desestabilizador na região. Mas Moçambique, através do apoio principalmente da comunidade internacional, tem de facto contribuído para melhorar numa perspetiva global o estado de segurança na região de Cabo Delgado", entende. 

O especialista em assuntos militares fala de "relatos de incidentes” pontuais, mas é notória a vontade das populações de voltarem à vida normal e à economia das respetivas localidades. Luís Bernardino destaca, entretanto, o papel da comunidade internacional na luta contra o fenómeno do terrorismo na região e incremento da segurança.

Luis Bernardino Autor
Luís Bernardino, especialista em segurança e defesa em ÁfricaFoto: DW/J.Carlos

"Portanto, aquilo que nós vimos é que essa conjugação de esforço internacional, quer através da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral], da missão SAMIM, que foi agora prolongada por mais um ano, quer a participação da União Europeia na criação de condições para ter forças de reação rápida, as chamadas QRF [em inglês], que vão intervir numa resposta a essas ameaças, quer também nas parcerias bilaterais com o Ruanda e a África do Sul, para combater este fenómeno em apoio das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique", diz.

Prolongamento da missão da UE

Realça, em particular a União Europeia, que também decidiu prolongar a sua missão em Moçambique.

"Há uma missão que se vai prolongar no tempo com um mandato claro, que é criar as 11 companhias de QRF [forças de reação rápida], e essas companhias vão de certa forma ser projetadas para o norte para melhorar as condições de combate."

Não há um horizonte temporal para acabar com a ação dos grupos terroristas, admite o investigador, que vê como bom sinal a diminuição de intensidade da ação terrorista no terreno, graças ao papel desempenhado pelas forças internacionais que vão continuam em Moçambique.

A DW ouviu os dois especialistas à margem de uma conferência no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (IUL) sobre a situação em Cabo Delgado.

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