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PolíticaBurkina Faso

Burkina Faso: Protestos contra visita de missão da CEDEAO

af | DW (Deutsche Welle) | com agências
5 de outubro de 2022

Delegação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) chegou terça-feira ao Burkina Faso, onde manteve um encontro com o novo líder da Junta Militar, no poder desde o golpe de Estado de sexta-feira.

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Foto: Olympia de Maismont/AFP

Liderada pela ministra dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Suzi Barbosa, a missão CEDEAO pretendia visitar o Burkina Faso na última segunda-feira (03.10), mas a viagem foi adiada a pedido da Junta Militar, que alegou problemas logísticos.

O golpe de Estado de sexta-feira (30.09) no Burkina Faso é classificado como tendo sido originado por crises internas entre os militares no poder desde a queda de Roch Marc Kaboré, em finais de janeiro deste ano.

Para a CEDEAO, esta situação é deveras preocupante. "O risco de confrontos dentro do exército era muito elevado. Se estes confrontos tivessem tido lugar, o exército teria acabado. O Estado teria desmoronado", disse o porta-voz da missão, Mahamadou Issoufou.

Missão da CEDEAO satisfeita

A missão da CEDEAO sai do Burkina Faso satisfeita por causa das discussões que manteve com a liderança da Junta militar no país.

"Posso assegurar-vos agora que a CEDEAO permanecerá com o povo do Burkina Faso e continuará a ajuda-lo neste difícil desafio que enfrenta", acrescentou o porta-voz da missão.

Ibrahim Traoré (centro), novo líder da Junta Militar
Ibrahim Traoré (centro), novo líder da Junta MilitarFoto: Vincent Bado/REUTERS

Mahamadou Issoufou garante que a CEDEAO vai continuar a acompanhar o processo de transição de poder para um regime eleito.

O bloco exigiu de Ibrahim Traoré o respeito pelo calendário eleitoral, acordado com o seu antecessor para o regresso à ordem constitucional até julho de 2024.

Protestos na capital

Vários cidadãos sairam à rua na capital, Ouagadagodou, para contestar a visita da missão da CEDEAO no país. Um dos manifestantes, Amadou Sagada, acusou o bloco de ser "uma vergonha".

"Queremos dizer-lhes que o povo burquinabe está de pé e não se deixará levar. O que o capitão Ibrahim Traoré fez foi a vontade do povo", acrescentou.

18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental

Serge Bayala, secretário permanente do Memorial Thomas Sankara, acredita que a CEDEAO caiu no descrédito no Burkina Faso.

"A CEDEAO apoiou a incapacidade  governativa de Damiba em relação à questão da segurança, porque Umaro Sissoco Embalo [presidente em exercício da organização] tinha dito que Damiba estava a ter êxito na situação de segurança no país. Para mim, existe um problema de legitimidade da CEDEAO", argumenta.

Calendário eleitoral

Sobre o calendário eleitoral proposto pela CEDEAO, Amadou Sagada comenta: "Quando a CEDEAO chega a um país, é para falar sobre o calendário eleitoral. Não sabemos se estamos a realizar eleições para as árvores, as montanhas, a floresta ou o quê?"

A preocupação da CEDEAO não deve ser a realização de eleições, mas sim a segurança no país; afirma o analista político Drissa Konaté.

"O problema com os acordos não é a realização de eleições. As realidades mudaram. Há mais atenção aos detalhes. Para mim, a estabilidade do país determina as cláusulas. Temos de determinar as causas, temos de curar a doença. O problema não é o prazo", sublinha.

O Burkina Faso debate-se com a violência armada em algumas regiões perpetrada por grupos jihadistas desde 2015. A situação tem-se deteriorado. Vários cidadãos apoiam à intervenção russa para ajudar no combate ao fenómeno.