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Bissau: Trocas na segurança são "tática para semear o medo"

Delfim Anacleto
11 de março de 2023

A Guiné-Bissau tem novo ministro do Interior e novo diretor-geral do Serviço de Informações de Segurança. Analista considera que as mexidas no setor servem para reforçar um "instrumento de repressão ao serviço do poder".

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Foto: Stringer/REUTERS

Esta semana, houve mexidas no setor da segurança na Guiné-Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló exonerou Sandji Fati do cargo de ministro do Interior e atribuiu-lhe o posto de conselheiro do Presidente para a área da Defesa Nacional. O vice-primeiro-ministro, Soares Sambu, passa a acumular a sua pasta com a chefia do Ministério do Interior. Além disso, houve mexidas no Serviço de Informações de Segurança.

O chefe de Estado guineense exonerou o brigadeiro-general Celso Simão Rosa de Carvalho e nomeou para o cargo de diretor-geral do Serviço de Informações de Segurança, o brigadeiro-general Armando da Costa Marna.

Em declarações à DW, Luís Vaz Martins, advogado e antigo presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, olha com estranheza para estas remodelações no setor da segurança.

"Essas mudança surpreendem-me porque, há bem pouco tempo, o ministro Sandji Fati foi nomeado para ocupar a pasta do Interior e da Ordem Pública. Ter de ser alterado 'nessa altura do campeonato', como se diz na gíria, parece-me muito estranho."

Luís Vaz Martins
O jurista Luís Vaz Martins associa as mudanças no setor da segurança ao ano eleitoral na Guiné-BissauFoto: DW/B. Darame

Um "instrumento de repressão"

Luís Vaz Martins associa as mudanças no setor ao ano eleitoral na Guiné-Bissau. Ocorrem "num contexto de um regime de pressão com tendência extremamente ditatorial, onde o Ministério do Interior e outros serviços ligados à segurança acabam por ser um instrumento de repressão ao serviço do poder", refere o jurista.

O país prepara-se para realizar eleições legislativas a 4 de junho.

Várias organizações e partidos políticos têm acusado o poder político na Guiné-Bissau de autoritarismo e de atropelos às leis e à democracia.

O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, denunciou várias vezes que está a ser alvo de perseguição política, tendo sido várias vezes impedido de sair do país, por alegadas ordens superiores.

O advogado Luís Vaz Martins admite que as mudanças no setor de segurança podem ser uma estratégia para a continuidade no poder de Umaro Sissoco Embaló.

"Parece-me uma estratégia de continuar a semear o medo no sentido de eventualmente condicionar os resultados eleitorais e garantir que a Constituição seja revista para um sistema presidencialista em detrimento do semipresidencialista", alertou o antigo presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos.

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