Bengo: Professores acusados de venderem vagas em escola
20 de setembro de 2023Nem mesmo um anúncio sobre a suspensão de matrículas no presente ano letivo na Escola Técnica de Saúde do Bengo terá impedido a inclusão de novas estudantes, que terão comprado a sua entrada.
À DW, o diretor da instituição, José Manuel, diz que uma investigação interna concluiu que, em agosto, duas jovens "se infiltraram" no corpo estudantil: uma no curso de enfermagem e outra no curso de análises clínicas.
Segundo José Manuel, entre os envolvidos "nesta prática vergonhosa", como a descreve, estão quatro professores, três da instituição e um da Escola 11 de Novembro, e um trabalhador que prestava serviços de segurança, e que se encontra foragido.
Dois dos docentes implicados confessaram o crime, acrescenta o diretor da Escola Técnica de Saúde do Bengo. "A terceira professora [da Escola] está implicada porque o seu nome aparece na ficha de matrícula falsa", explica.
Contornos políticos?
Ao que a DW apurou, essa professora estaria ligada a um partido da oposição angolana, e nega ter assinado a ficha. Há, por isso, quem especule que este caso também possa ter contornos políticos. Mas o diretor José Manuel rejeita esta versão.
"Embora já tenha dito que tal assinatura não é dela, verdade ou não, só a investigação criminal poderá apurar", diz.
O caso foi remetido às autoridades judiciárias. E as estudantes alegadamente "infiltradas" serão expulsas, diz o diretor da escola.
A compra de matrículas é um problema antigo em Angola. Há muito tempo que a sociedade civil alerta para os casos de corrupção no setor da educação, tanto no ensino geral, como no ensino técnico-profissional e superior: há quem compre boas notas e quem dê centenas de euros para entrar numa instituição de ensino, porque muitas vezes há poucas vagas.
Ainda em agosto, os diretores, subdiretores e um secretário de três escolas na província de Malanje foram detidos por suspeita de extorsão.
Problema geral
Arlindo Paulo, professor e gestor escolar, diz que o problema é generalizado no país, sem distinção de simpatias políticas.
Segundo ele, "o problema da corrupção é de todos nós. Há corruptos no MPLA, na UNITA, no Bloco Democrático, no PHA e em todos os outros partidos, mas não são os partidos que os instruem a ser corruptos. É uma questão de consciência."
A corrupção permeia a sociedade inteira, diz Arlindo Paulo, e é preciso fazer muito mais para a combater.
Especialistas concordam que, para travar as práticas corruptas, é preciso aumentar a transparência na atribuição de vagas e reforçar a fiscalização e responsabilização dos envolvidos.
Contactado pela DW, o Serviço de Investigação Criminal informou que correm na instituição vários processos envolvendo professores.