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Ativista guineense: "Sissoco não merece apoio internacional"

11 de maio de 2023

Na Guiné-Bissau, episódios de violência e ameaças às liberdades fundamentais fazem manchetes. A dois dias do arranque da campanha eleitoral, a sociedade civil guineense questiona o silêncio da comunidade internacional.

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Guinea-Bissau I Putschversuch in Bissau gescheitert, mehrere Tote
"Contra toda a lógica", Umaro Sissoco Embaló (na foto) foi "promovido" a Presidente executivo da CEDEA, afirma o ativista Sumaila JalóFoto: Alui Embalo/AFPTV/AFP/Getty Images

O ativista guineense, Sumaila Jaló, em entrevista à DW África, critica a comunidade internacional pelo seu "silêncio ensurdecedor" perante as sucessivas violações dos direitos fundamentais e humanos praticadas pelo regime de Umaro Sissoco Embaló.

Os partidos políticos da oposição e os membros da sociedade civil estão com medo de criticar o regime no poder com receio de serem atacados. As liberdades fundamentais estão "limitadas" no país. 

DW África: O que explica o alegado silêncio da comunidade internacional perante contínuos casos de violação das liberdades fundamentais na Guiné-Bissau?

Sumaila Jaló: Não se deveria apoiar Umaro Sissoco Embaló

Sumaila Jaló (SJ): Só há uma explicação: isso deve-se à cumplicidade das organizações da comunidade internacional, que estão envolvidas na construção da paz e da democracia na Guiné-Bissau. Não é concebível que - durante a vigência de três anos de um regime liderado por Umaro Sissoco Embaló - nós tenhamos um país com raptos, espancamentos de cidadãos não alinhados com o regime, perseguições políticas, instrumentalização de instituições oficiais para essas perseguições políticas, e - ao mesmo tempo - entidades da comunidade internacional, representadas na Guiné-Bissau, a manterem-se em silêncio.

No caso da CEDEAO até se dão ao luxo de promover quem espalha estas perseguições para o cargo de Presidente em exercício da organização. Neste caso, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.

DW África: E, a seu ver, o que está por detrás dessa cumplicidade, de que fala? 

SJ: O Senegal tem um Presidente da República, que é Macky Sall, amigo do Presidente da República da Guiné-Bissau. Isso é público. O Senegal tem interesses comprovados na exploração do petróleo na Zona Marítima, dita "conjunta", com a Guiné-Bissau. E a cumplicidade é nesse sentido: regimes que ajudam a continuidade da alimentação desses interesses, a partir da Guiné-Bissau, são bem-vindos. E não nos devemos esquecer que, nos últimos anos, vários outros países, nomeadamente a China, tiveram também sempre participação na exploração das matas do país, nomeadamente através do derrube de árvores de grande porte por parte de empresas de exportação de madeiras. Não nos devemos esquecer que, do ponto de vista diplomático, há disputas de influências em relação aos Estados chamados mais frágeis, aos Estados do terceiro mundo, para o sustento das suas agendas internacionais.    

DW África: O nome do Presidente acaba muitas vezes por vir à baila quando há essas situações, mas, por outro lado, tem vindo a ganhar algum protagonismo internacional. Considera que Umaro Sissoco Embaló é visto como uma peça estratégica no jogo político e económico internacional? Daí essa proteção?

SJ: Sim, exatamente. Essas mesmas entidades desenvolvem as estratégias políticas que têm fins económicos em relação aos recursos naturais. E a maior parte dos países africanos acabam por legitimar líderes políticos, mesmo autoritários, quando estes trabalham a favor dos interesses geoestratégicos dos países dominantes a nível internacional. Acabam por ter apoios desses países. E é o que está a acontecer com Umaro Sissoco Embaló, que é declaradamente o rosto da violência e do autoritarismo na Guiné-Bissau.

DW África: De que forma é que a comunidade internacional se deveria posicionar? O que poderia ser feito?

SJ: Devia cortar todos os apoios políticos ao regime ditadorial. Deveria ter denunciado publicamente os raptos, os espancamentos e as perseguições políticas, assim como a instrumentalização de instituições judiciais para a concretização de todos estes atos bárbaros e anti-democráticos. A comunidade internacional deveria cortar qualquer tipo de suporte a um regime que contraria os valores democráticos.

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