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Oposição e eleitores angolanos contestam dados da CNE

Borralho Ndomba
25 de agosto de 2022

Os resultados provisórios anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) "suspenderam" as comemorações de uma possível vitória da UNITA nas eleições de quarta-feira. Hoje houve distúrbios em vários pontos da capital.

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Em Cacuaco, alegadas atas sínteses com resultados eleitorais foram encontrados em contentores de lixo
Em Cacuaco, alegadas atas sínteses com resultados eleitorais foram encontrados em contentores de lixoFoto: Borralho Ndomba/DW

Após o encerramento das assembleias de voto, na quarta-feira à tarde, várias atas sínteses com os resultados de cada local começaram a circular nas redes sociais.

Os documentos eleitorais continham vitórias expressivas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), situação que levou muitos cidadãos a festejarem em bairros como o Cazenga, Cacuaco e Viana. 

À noite, a DW África constatou que delegados de listas de partidos concorrentes confirmavam em conversas nas ruas e nos táxis a vitória do partido do galo negro em várias assembleias de voto em Luanda.

Mas os resultados das atas sínteses foram contrariados por uma sondagem divulgada pela Televisão Pública de Angola, que dava vitória expressiva ao Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA).

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MPLA à frente segundo CNE

Os primeiros resultados provisórios foram publicados na madrugada de quinta-feira (25.08). Segundo a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), o MPLA ia à frente na contagem dos votos. A UNITA seguia mais atrás, a dez pontos percentuais de distância, com 86% das mesas contabilizadas.

"Temos a informar que o MPLA segue com 52,08% do total dos votos expressos, a UNITA segue com 42,98% dos votos", anunciou o porta-voz da CNE, Lucas Quilundo.

O partido de Adalberto Costa Júnior venceu em Luanda e no Zaire, segundo a CNE.

O eleitor Álvaro Pires acredita que os resultados são fraudulentos e defende que o povo deve exigir os resultados reais. "A CNE não está a ser justa, até porque não consegue publicar os resultados das atas que estamos a ver nas redes sociais", critica.

"Se a CNE tivesse a coragem de publicar os resultados das atas que até ao momento temos, notar-se-ia claramente que estes resultados divulgados são bastante falsos", diz Pires, que quer saber em que municípios o MPLA saiu vitorioso. 

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CASA-CE contesta resultados

A Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), que foi a terceira força política no último mandato, é o sexto partido mais votado, de acordo com os dados provisórios apresentados pela CNE.

A coligação de Manuel Fernandes ficou atrás do Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA) e Partido Humanista de Angola (PHA). 

A CASA-CE contesta os resultados porque, segundo a vice-presidente Cesinanda Xavier, não condizem com a "verdade eleitoral".

"Nestas eleições de 2022, podemos constatar que foram livres, mas não são justas nem transparentes. Podemos mesmo realçar e reafirmar aqui, que foi o processo mais vergonhoso que tivemos em termos de divulgação e verdade eleitoral", criticou.

Distúrbios em Luanda

Tumultos foram registados em vários pontos de Luanda. No centro da cidade, fiscais da Aliança Patriótica Nacional (APN) exigiram pagamentos dos honorários pelos seus serviços durante as eleições. Nas zonas do mercado dos Congolenses, Cazenga e Kikolo, eleitores protestaram contra os resultados apresentados pela CNE.

A polícia usou balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes. Utukidi Skott diz ter testemunhado isso mesmo no distrito do Hoji-ya-Henda, município do Cazenga e que as manifestações foram espontâneas.

"Constatámos que alguns jovens descontentes com os resultados das eleições pretendiam fazer protestos no Hoji-ya-Henda. Durante os atos de protestos, os demais elementos da região também se identificaram com a causa e juntaram-se. Alguns chegaram a fazer desmandos em algumas cantinas e diziam que precisam de mantimentos para aguentar a revolução que vem daqui a dias", relata.

A polícia promete usar todos os meios a seu alcance para impedir os tumultos. "O que estes cidadãos estão a fazer fere gravemente a ordem pública, põe em causa direito de outros cidadãos. Por isso é que a polícia nacional, durante a manhã toda, andou a repor a ordem", afirmou o porta-voz da polícia angolana, comissário Orlando Bernardo.

O analista político Cláudio Silva afirma que os protestos resultam da campanha para controlar os votos, que está a ser levada a cabo por muitos eleitores.

Acredita que mais protestos poderão ocorrer nos próximos dias, porque a CNE carece de legitimidade. "Porque é um órgão que, à partida, já está partidarizado. É um órgão que viola constantemente a lei eleitoral e que historicamente tem faltado com a verdade diversas vezes", diz.

Jornalista angolano Fernando Guelengue
Jornalista angolano Fernando GuelengueFoto: Borralho Ndomba/DW

Atas no lixo

Entretanto, em Cacuaco, alegadas atas sínteses com resultados eleitorais foram encontrados em contentores de lixo.

"As atas estão a ser colocadas no lixo, há desvantagens para quem precisa de mais informações, fundamentais à oposição", denuncia o jornalista Fernando Guelengue, que teve acesso aos documentos.

"Está assim declarado este aspeto da denúncia feita por um cidadão que não quer ser identificado e teve inclusive medo de circular com as atas. Agora que lancei o repto, o medo também me pertence", conclui o jornalista.