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Angola: Ataque ao consulado feito por hackers ou interno?

João Carlos
23 de fevereiro de 2022

Equipa angolana esteve em Lisboa para investigar a origem de ataque cibernético ao Consulado na capital portuguesa, em dezembro. Há suspeitas de boicote interno que contrariam a ideia de um ataque feito por hackers.

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Imagem ilustrativaFoto: Frank Rumpenhorst/dpa/picture alliance

A base de dados do Consulado Geral de Angola em Lisboa foi alvo de um ataque cibernético a 16 de dezembro do ano passado. Vários serviços essenciais do Consulado ficaram afetados durante mais de um mês.

A DW sabe que o Ministério das Relações Exteriores de Angola (MIREX) mandou averiguar o que terá acontecido ao sistema informático do Consulado.

Fonte bem informada confirma que uma equipa técnica esteve em Lisboa dias depois do apagão informático, mandatada pelas autoridades angolanas para averiguar a ocorrência. A fonte adianta que "o problema está a ser ultrapassado" e devidamente analisado em Luanda.

Esta informação, revelada numa das últimas edições do diário angolano Novo Jornal, surpreendeu Franco Nhani, deputado da UNITA, principal partido da oposição em Angola, que está em Lisboa por estes dias a título privado. "A questão é importante e considero serem informações e esclarecimentos que nós vamos buscar ao Consulado para nos podermos precaver de uma situação que não foi boa para essa infraestrutura", afirma Nhani.

O deputado do partido que integra a Frente Patriótica Unida (FPU) promete levar o assunto ao Parlamento angolano, "vamos ter a conversa ao nível do Consulado, vamos reunir os dados para estarmos em condições de levantar esta questão ao nível da Assembleia Nacional de Angola".

Hacker ou "toupeira"?

Segundo o Novo Jornal, tratou-se de "um ataque externo e organizado por hackers". Fontes citadas pelo diário "alegam haver fortes suspeitas de que terá sido uma ação interna".

Consulado de Angola em Lisboa (foto de arquivo)
Consulado de Angola em Lisboa (foto de arquivo)Foto: João Carlos/DW

O objetivo do ataque seria de apagar documentos e dados que comprometem a anterior gestão do consulado liderada entre 2016 e 2021 pelo embaixador Narciso do Espírito Santo Júnior.

Isto porque, adianta o jornal, "a atual cônsul-geral, Vicência de Brito, terá já manifestado interesse em rescindir contrato com a empresa prestadora de serviços informativos".

Armindo Laureano, diretor do Novo Jornal, sublinha a inquietação do Presidente angolano, João Lourenço, em relação à defesa e segurança da "soberania de dados", controlados na sua maioria por empresas estrangeiras encarregadas pela manutenção dos sistemas informáticos de Angola.

Menos dependência tecnológica

Segundo Laureano, o chefe de Estado angolano quer que o Estado tenha um maior controlo sobre a informação e gestão de dados, sem a dependência tecnológica de terceiros ou de influências externas.

"A questão que houve no consulado chamou a atenção para a necessidade de o país olhar para a soberania dos dados. É algo que está na agenda presidencial, uma grande prioridade a nível daquilo que é o controlo da soberania do próprio país", afirmou.

Segundo o Presidente de Angola, João Lourenço, "os termos dos contratos, a sua fiscalização e confidencialidade devem ser cada vez mais rígidos", acrescenta o jornalista.

Neste contexto, adianta, existe "a necessidade de se desenvolver tecnologicamente no país sistemas integrados de gestão financeira", de modo a "acabar com esquemas criados e colocar uma certa ordem no circo".

O diretor do Novo Jornal refere ainda que "esta foi sempre uma área em que se fizeram contratos com pouca lisura e transparência". Foram subfaturados pagamentos com contratos fraudulentos e lesivos ao Estado. "Uma área", segundo Armindo Laureano, "em que a maior parte das vezes o interesse nacional esteve sempre em segundo plano, sendo que interesses particulares e de pequenos grupos sempre dominaram".

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