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As "asas de cera" de Venâncio Mondlane

22 de maio de 2024

Venâncio Mondlane, que parecia "voar alto" nas redes sociais, teve "as asas derretidas" no congresso da RENAMO. A sua intenção de concorrer à Presidência da República pela "Perdiz" caiu por terra.

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Foto: Romeu da Silva/DW

Venâncio Mondlane está na política ativa há cerca de onze anos. Esteve no MDM, segunda maior força da oposição, mas saiu em 2018 alegando falta de democracia interna. Nesse ano, juntou-se à RENAMO, partido que poderá deixar agora com as mesmas alegacões. O académico José Malaire não tem dúvidas sobre a saída de Venâncio Mondlane da maior força da oposição moçambicana.

"Mais dia ou menos dia, a RENAMO termina o processo legal, porque, em termos materiais, Venâncio já não é membro do partido. E ele já sabe disso", acredita.

Sobre os seus saltos de partido em partido nos últimos 11 anos, Malaire entende que Mondlane "não se encaixa [neles], ou a política dos partidos moçambicanos não se encaixa nele”.

"Porque Venâncio apresenta-se como alguém que busca a transparência e justiça, a valorização das instituições democráticas, e isso não se faz tentando reformar um pano velho. Faz-se criando e fundando algo novo", defendeu José Malaire.

Postura nociva ou astúcia?

Nos últimos meses, Venâncio Mondlane travou uma batalha, dentro e fora do partido, contra o presidente da RENAMO. Acusou Ossufo Momade de sufocar opositores internos como ele. Foi à até Justiça denunciar a suposta violação dos estatutos do partido.

A ativista social e jornalista Mirna Chitsungo descreve Venâncio Mondlane como um político com convicções fortes, que não baixa a cabeça perante as adversidades.

Venâncio Mondlane à DW: "Não sou vendedor de sonhos"

"O que Venâncio fez é típico de pessoas com princípios e valores próprios que não se submetem às irregularidades apenas porque querem sobreviver", afirmou Mirna Chitsungo.

O congresso de Alto Molocué, que reconduziu Ossufo Momade à liderança do partido, pode ter sido o “sol escaldante”, que derreteu as asas de Venâncio Mondlane e deitou abaixo o seu sonho de concorrer à Presidência da República pela "Perdiz". 

Em entrevista à TV Sucesso nesta segunda-feira (20.05), o deputado da RENAMO António Muchanga considerou a postura do seu colega de bancada "nociva", acrescentando que: "ele é perigoso. Até chega a usar a imagem do falecido presidente Dhlakama dizendo que [lhe passou o] testemunho, porque esteve com ele dois dias…"

"Tsunami" nacional

Gorada a possibilidade de concorrer à Presidência da República a 9 de outubro como líder da RENAMO, Venâncio Mondlane vai tentar a sorte como independente, conforme anunciou no último fim de semana.

"A partir de terça-feira (21.05) vai haver muito trabalho de recolher assinaturas. Este ano vai haver um tsunami que ninguém vai parar", declarou Mondlane perante uma marcha com os seus apoiantes, que o foram receber no aeroporto internacional de Maputo.

Mas o caminho para o palácio da Ponta Vermelha pode ser tortuoso. O político tem poucas chances de vencer a corrida presidencial, onde teria como principais concorrentes Daniel Chapo, Ossufo Momade e Lutero Simango.

José Malaire
José Malaire, académico e analista políticoFoto: Privat

O académico José Malaire acredita que Venâncio Mondlane tem ainda muito caminho a percorrer, "porque as eleições gerais são ganhas nas zonas rurais e Venâncio Mondlane não é um ator político nacional. É um ator político urbano e das redes sociais".

A jornalista Mirna Chitsungo entende que, sem o suporte da RENAMO, a força política de Venâncio Mondlane fica reduzida.

"Ele não tem mais a mesma robustez como quando estava no partido RENAMO, porque, por exemplo, nas províncias e nos distritos, as pessoas não votam em Venâncio, votam na RENAMO", concluiu Mirna Chitsungo.

Sendo assim, tanto José Malaire como Mirna Chitsungo advogam que Mondlane comece a pensar seriamente no seu futuro político pós-eleições gerais, marcadas para outubro.