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Angolanos querem imprensa regional independente do Estado

José Adalberto (Huambo)
16 de novembro de 2018

No âmbito da sua estratégia de crescimento, o Jornal de Angola está a lançar, desde maio, vários títulos regionais. Mas vozes críticas temem que o intuito do Estado seja apenas regionalizar a propaganda.

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Angola Wahlen Zeitungen
Foto: António Cascais

O jornal estatal quer refletir as realidades locais, nas diferentes províncias, que não encontram espaço no seu diário generalista. Mas o modelo de expansão seguido pelo Jornal de Angola está a ser alvo de críticas. Muitos angolanos consideram que o processo é igual ao da Rádio Nacional de Angola, cujas rádios, a nível municipal e regional, não visam reforçar a quantidade e a qualidade da informação, mas sim a presença do Estado, afirmam as vozes mais críticas.

Até ao momento, foram lançados dois títulos dos três previstos para as regiões centro e sul do país. Já estão nas bancas os jornais Planalto, que abarca as províncias do Huambo e Bié, e Ventos do Sul, que cobre as províncias da Huíla, Cunene, Namibe e Cuando Cubango. Está , ainda, na forja outro título para as províncias de Benguela e Kwanza Sul.

Angolanos querem imprensa regional independente do Estado

O novos títulos ocupam os espaços deixados por alguns periódicos regionais publicados nesta região, como o Semanário Cruzeiro do Sul, Chela Press e o Correio do Sul, que sucumbiram devido a dificuldades financeiras e falta à de incentivos estatais.  

"Existem muitos tabus"

O ativista cívico José Domingos, do Conselho das Organizações da Sociedade Civil, do Huambo, considera que os novos jornais são uma iniciativa louvável. No entanto, critica o trabalho feito até agora pelo Planalto, dedicado ao Huambo e ao Bié. 

"Ainda não reflete as nossas expetativas, porque temos estado a notar que exalta mais figuras governamentais do que a verdadeira realidade social. Há problemas sérios no Huambo e Bié, mas estas questões não são tratadas ainda neste jornal", afirma o ativista, em entrevista à DW África.

Angola, Huambo: José Domingos, Aktivist der angolanischen Zivilgesellschaft, Präsidente des Rats der zivilgesellschaftlichen Organisationen "Conselho das Organizações da Sociedade Civil"
José Domingos: "Jornal de Angola exalta figuras governamentais"Foto: DW/J. Adalberto

Para Bento Gungui, professor do ensino primário no Huambo, o surgimento do Planalto é uma mais valia para a informação e educação dos cidadãos. O docente espera que o lançamento deste jornal seja acompanhado pelos incentivos que devem ser dados pelo Estado às iniciativas privadas neste setor.

"Talvez com esta abertura do jornal Planalto, vamos começar, a notar  alguma melhoria, mas falando propriamente do incentivo que o Estado devia dar para o surgimento de canais privados, pensamos que ainda não há nada que possa ser visto no fundo do túnel".

Opinião unânime: "Imprensa local precisa-se"

Já para Lucélia dos Santos, também professora do ensino primário no município do Ucuma, no Huambo, a divulgação de informações locais através de rádios comunitárias e outros meios de comunicação social é indispensável no atual contexto angolano, em que o país caminha para a abertura democrática.

A professora diz que "a informação local é ainda muito fechada". Por isso, "se houvesse mais abertura neste campo, creio que seria uma mais valia para as comuindades rurais, porque elas estariam informadas e saberiam um pouquinho mais daquilo que acontece na nossa terra", afirma Lucélia.

Angola, Huambo: Lucélia dos Santos, Grundschullehrerin aus Huambo, Angola
Lucélia dos Santos: "A imprensa local é muito fechada"Foto: DW/J. Adalberto

Memória Ekolica, coordenador da organização não governamental Horizonte Media de Angola, que se dedica à promoção do pluralismo nos meios de comunicação social, considera que o Estado angolano deveria estender a mão às iniciativas privadas nas províncias.

"O Estado habituou as pessoas a ouvirem falar só de si, portanto do Estado. O Estado afungentou as pessoas singulares a entrarem para a área de comunicação durante estes 43 anos de independência. O Estado, que afungenta as próprias pessoas quando precisa, tem que criar políticas para buscá-las e lhes dar coragem para participar [na comunicação social]", apela o coordenador.

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