Angola: Vários mortos e feridos em incidentes na Lunda Norte
30 de janeiro de 2021Pelo menos quatro pessoas morreram na sequência de um alegado "ato de rebelião", envolvendo um grupo ligado ao Protetorado Lunda Tchokwe, segundo a polícia angolana, números que o líder do movimento desmente, apontando para 15 mortos numa manifestação. Os acontecimentos terão ocorrido na vila mineira de Cafunfo-Cuango.
O Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe, que luta pela autonomia da região das Lundas, no Leste-Norte de Angola, tinha agendado para este sábado (30.01) uma manifestação, mas os dirigentes queixam-se de ser alvo de perseguições e denunciaram várias detenções nos últimos dias.
Um comunicado divulgado pelo Comando Provincial da Lunda Norte da Polícia Angolana dá conta da morte de quatro pessoas durante a madrugada devido a um "ato de rebelião armada", informação que outras fontes ouvidas pela agência de notícias Lusa contrariam.
Versões contradizem-se
Segundo a polícia, o ato foi perpetrado por cerca de 300 elementos ligados ao Protetorado Lunda Tchokwe, na vila mineira de Cafunfo-Cuango que tentaram invadir, cerca das 04h00, uma esquadra da polícia para a ocupar e colocar uma bandeira.
A polícia diz que os manifestantes estavam armados com armas de fogo, armas brancas, paus e ferros e causaram ferimentos a dois oficiais, tendo sido mortas quatro pessoas e outras cinco ficado feridas durante a tentativa de dispersão.
A versão policial é contrariada por ativistas cívicos da Lunda Norte e pelo presidente do movimento que, em declarações à Lusa, referiram números de mortos diferentes e afirmaram que os manifestantes não estavam armados.
Segundo José Mateus Zecamutchima, presidente do Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe, um grupo de pessoas dirigia-se por volta das 06h00 para o local da manifestação quando se viram envolvidos em confrontos com a polícia, na sequência dos quais resultaram 15 mortes e 19 pessoas feridas, incluindo uma criança.
O dirigente, que negou a tentativa de invasão da esquadra, disse à Lusa que foi enviada antecipadamente uma carta ao governo provincial pedindo autorização para a manifestação pelo direito de reconhecimento da autonomia, mas a polícia "começou logo a prender pessoas", encontrando-se detidos desde dia 16 de janeiro 12 membros do movimento. José Mateus Zecamutchima negou também que estivessem armados: "vamos encontrar arma onde? Quem vai nos dar arma", questionou, lamentando que as autoridades não assumam o que aconteceu e cujas imagens estão a ser partilhadas através das redes sociais.
"Estado de sítio" em Cafunfo
Também Jordan Muacabinza, ativista cívico e defensor dos direitos humanos, morador em Cafunfo, referiu que os manifestantes estivessem armados e adiantou que as informações que recolheu apontam para sete mortes ."Militarizaram toda a zona", disse à Lusa, explicando que a sua casa, bem como a de outros ativistas, está cercada e que ninguém está autorizado a sair.
"Toda a população do Cafunfo está fechada nas suas residências. A zona está militarizada e em estado de sítio", acrescentou o ativista independente, que não pertence ao movimento Protetorado da Lunda Chokwe.
"Pelo que sei, não estavam armados, nunca vi nenhum militante aqui armado", afirmou, relatando que a polícia e os militares dispararam indiscriminadamente contra civis.
A autonomia da região das Lundas (Lunda Norte e Lunda Sul, no leste angolano), rica em diamantes, é reivindicada por um movimento que se baseia num Acordo de Protetorado celebrado entre nativos Lunda-Tchokwe e Portugal nos anos 1885 e 1894, que daria ao território um estatuto internacionalmente reconhecido.
Portugal teria ignorado a condição do reino quando negociou a independência de Angola entre 1974/1975 apenas com os movimentos de libertação, segundo o movimento.