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Angola retira cidadãos da tensa Costa do Marfim

15 de março de 2011

Pró-Gbagbo, o país de língua portuguesa decidiu repatriar cidadãos comuns e diplomatas que vivem na Costa do Marfim, onde 400 pessoas já teriam morrido devido a tensões pós-eleitorais.

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Apoiantes de Alassane Ouattara apontam para os corpos queimados de três alegados soldados leais ao presidente cessante Laurent GbagboFoto: AP

Dezenas de angolanos estão a abandonar a Costa do Marfim devido à instabilidade. Desde novembro do ano passado, o país situado no Golfo da Guiné é palco de um impasse envolvendo o presidente cessante Laurent Gbagbo e o candidato que o teria vencido na segunda volta do escrutínio presidencial, Alassane Ouattara. A comunidade internacional reconhece Ouattara como o vencedor das eleições.

Diante da tensa situação na Costa do Marfim, que já teria resultado na morte de 400 pessoas desde a divulgação do resultado, no ano passado, o governo de Luanda ativou um plano integrado para evacuar dezenas de diplomatas, estudantes e religiosos que residem no país. Alguns dos cidadãos estão a ser transferidos para o Gana, e outros para o Quénia, de onde voltam para a capital angolana Luanda.

“A vida perdeu o sentido”

Elfenbeinküste Flüchtlingskinder in Abidjan
Crianças desabrigadas e suas famílias esperam por comida em AbidjanFoto: dapd

O missionário católico angolano António Mbuco, evacuado da capital econômica da Costa do Marfim, Abidjan, há cerca de quatro dias, descreveu à Deutsche Welle um cenário de mortes, de fome e de destruição. “A situação está péssima. Não há uma guerra, mas há uma crise lá naquele país… a vida perdeu o sentido. Muita morte, escolas fechadas, universidades fechadas, bancos fechados, fome por todo lado” disse Mbuco, por telefone.

Segundo o missionário, a embaixada angolana aconselhou cidadãos a sair da Costa do Marfim – mas não havia verba para retirá-los porque os bancos estavam fechados. Assim, cada angolano teve de arranjar uma possibilidade de sair. “Eu vim a Nairobi [capital do Quénia]. Alguns angolanos vão para o Gana, o país mais próximo, para esperar que a situação se normalize”, disse o frei. Alguns angolanos também teriam sido evacuados para outros países vizinhos da Costa do Marfim.

George Chikoty, ministro angolano das Relações Exteriores, explicou à Deutsche Welle em Luanda que a retirada do pessoal diplomático já foi concluída. “Nosso pessoal já se retirou da cidade de Abidjan e se encontra, neste momento, no Gana”, disse Chikoty. “Estamos atentos a todos os pontos onde temos não só crises, mas onde tenhamos cidadãos angolanos em perigo.”

Elfenbeinküste UNO Truppen in Abidjan
Soldados jordanianos da ONU fazem manobras em AbidjanFoto: dapd

Pró-Gbagbo, Angola teria enviado militares e mercenários à Costa do Marfim

Nos últimos meses, o governo de Luanda se disse a favor de Laurent Gbagbo, o presidente cessante que não aceitou a derrota nas eleições de novembro passado. O chefe da diplomacia angolana, George Chikoty, disse defender um governo de “união e reconciliação nacional entre todos os marfinenses”.

“A recomendação pede que o presidente Gbagbo aceite esta posição, que nos parece construtiva. E Angola vai acatar, vai trabalhar com a União Africana em tudo quanto tenha sido produzido”, disse Chikoty.

O correspondente da Deutsche Welle apurou que há rumores de que Luanda teria mandado para a Costa do Marfim um contingente militar e alguns mercenários, que teriam sido contratados em Angola.

Segundo fontes ouvidas em Luanda, Angola quer evitar que cidadãos nacionais sejam alvo de sevícias de alguns costa-marfinenses, que poderiam acusar os angolanos de serem parcialmente responsáveis pelo conflito pós-eleitoral e a indefinição que se regista.

Autor: Manuel Vieira (Luanda)

Revisão: Renate Krieger / António Rocha