Angola: Polícia acusa UNITA de liderar manifestação
18 de junho de 2023No princípio, tudo indicava que a manifestação em Luanda, contra as reformas do Governo não seria reprimido.
Mas a situação mudou mal os manifestantes começaram a marchar. A Polícia que acompanhou a manifestação durante três horas no local da concentração, montou uma barricada e impediu a continuação da marcha.
"Insultos" e "desordem"
O diretor adjunto do Gabinete de Comunicação Institucional da polícia Nacional de Angola, Mateus Rodrigues, em declarações à Televisão Pública de Angola (TPA), disse que os manifestantes violaram o trajeto e ofenderam os agentes de serviço.
Mateus Rodrigues afirma que ocorreram atos de vandalismo nas províncias de Luanda e Benguela.
"Houve detenções em Luanda e Benguela. Na província de Benguela, foram apreendidas 22 motos, três pneus que foram queimados na via pública, que foi uma das ações que fizeram, é um bidão com combustível com objetivo de queimar os pneus na rua. Foram detidos 55 cidadãos em Benguela e 32 em Luanda".
Sem anunciar o número de feridos, o oficial da polícia relatou que algumas pessoas foram feridas pelos próprios manifestantes. Os detidos vão ser apresentados ao Ministério Público e podem ser julgados sumariamente.
Polícia responsabiliza UNITA
A polícia angolana acusa dirigentes da UNITA de assumirem a posição de liderança das manifestações ocorridas no país. Mas a organização do protesto nega qualquer ligação com o maior partido da oposição.
O ativista Dito Dalí, co-organizador da manifestação, fala na detenção de pessoas que não estavam na manifestação.
"Eles acham que o povo angolano ainda é infantil, que não tem noção sobre a situação política e social do país, que não tomou consciência sobre os seus deveres, por isso, pensam que o povo não está a sentir os efeitos do aumento do preço da gasolina. Acham que a UNITA é que está a estimular a população”.
Em declarações à DW África, Dito Dali negou que os manifestantes tenham cometido arruaças na via pública.
Organização desmente
Circulam nas redes sociais várias imagens de feridos e cartuchos de balas reais que a polícia terá usado para dispersar os manifestantes.
No Huambo, o Movimento dos Estudantes Angolano denunciou atos de tortura ao seu secretário provincial e a sua família por aderir à manifestação.
A atualidade económica faz-se sentir nos bolsos dos angolanos. Os produtos da cesta básica estão mais caros desde que foi anunciada o fim da subvenção aos combustíveis. O Kwanza, a moeda nacional está mais desvalorizada.
Kennedy Manuel, um dos manifestantes diz que os protestos vão continuar se os preços dos produtos continuarem altos.
"Nem fez um ano desde que João Lourenço foi empossado, já está a caminhar mal. Voltamos mais cedo aos protestos. Antes voltávamos próximo ao período eleitoral. Isso mostra que este mandato de João Lourenço vai ser de chuva de manifestação porque o país está a piorar. Hoje consultei um euro está 800 kzs e poder chegar aos mil”.
Angolanos em dificuldades
A manifestação também visou repudiar o fim da venda ambulante em Luanda. A zungueira Custódia dos Santos, que investe mil Kwanzas (cerca 1,28 EUR) no negócio de água mineral, revela que as dificuldades no seio da família aumentaram nas últimas semanas.
"Onde vendo tem muita corrida. O fiscal prende-nos o negócio é temos que pagar 500 Kwanzas para termos de volta. Se não tiver o dinheiro abandona o negócio. Tenho lucro de 200 Kwanzas (0,26 euros) por cada embalagem de água. Para ter mil Kwanzas tenho que vender cinco embalagens de água e nesse tempo de frio é muito difícil conseguir vender cinco embalagens de água fresca”.
MPLA apoia Presidente
Entretanto, no Cuando Cubando, o MPLA, partido no poder, marchou em apoio à governação de João Lourenço.
José Martins, primeiro secretário provincial do MPLA, lembrou que é o único partido que luta pela vida do povo angolano.
"Por isso, lutou para garantir a independência nacional. É o MPLA que lutou para garantir a integridade e soberania territorial do nosso país. É o MPLA que lutou para trazer a paz no nosso país, enquanto os outros grupos de angolanos nunca se interessaram na paz, na reconciliação entre os irmãos e da democracia no nosso país ".
O povo angolano promete voltar a sair às ruas do país enquanto a situação económico-social do país continuar como está.