Angola: Oposição rejeita modelo do Governo para autarquias
17 de maio de 2018A oposição angolana volta a criticar, a uma só voz, o modelo de implementação gradual das autarquias no país, proposto pelo partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Abel Chivukuvuku, líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), diz que esse é um modelo inconstitucional que agravará "as desigualdades e assimetrias regionais já existentes".
O grupo parlamentar da CASA-CE analisou, durante dois dias, com outros partidos e organizações da sociedade civil a implementação das autarquias em Angola.
O Partido de Renovação Social (PRS), afirmou igualmente que o modelo defendido pelo Governo é ilegal: "Está-se a distrair os angolanos, discutindo o que não consta em nenhuma lei do país", defendeu o secretário-geral do partido, Rui Malopa.
Para a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), o "gradualismo" compromete o Estado unitário, segundo o secretário do partido para os assuntos parlamentares e eleitorais, Ângelo Kanga.
À procura de um "conjunto harmonioso"
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, também defendeu que as eleições autárquicas devem ser realizadas em todos os municípios do país e não de forma gradual.
"Como não há espaço territorial de Angola que não integre um município, e não há um residente que não resida num município, então, onde há um território nacional com residentes, deve haver autarquias. Todo o país deve ser um conjunto harmonioso de autarquias", afirmou a deputada da UNITA, Mihaela Webba.
O partido do Galo Negro prevê a criação de 200 mil postos de trabalho, caso as autarquias sejam implementadas de uma vez só em todo o país.
Contra a exclusão de cidadãos
Na conferência sobre as autarquias locais, na terça e quarta-feira (15 e 16 de maio), participaram ainda organizações da sociedade civil.
O coordenador da Associação Construindo Comunidades alertou que o "gradualismo" poderá aumentar as desigualdades sociais no país: "As autarquias estão alinhadas plenamente com esta visão de desenvolvimento local de cada comunidade. E espero, realmente, que haja sensibilidade para que nós que vivemos nas periferias não sejamos excluídos", afirmou o padre Pio Wakussanga.
"Autarquias locais à luz de outras realidades" foi um outro dos temas abordados na conferência, em que também discursaram especialistas vindos de Portugal, Cabo Verde e Moçambique.
O engenheiro e autarca cabo-verdiano César de Almeida frisou, por exemplo, que, no seu país, não se adotou o "gradualismo".
"Mas isso resultou da nossa própria realidade, uma vez que todo o poder se centralizava na capital, na maior ilha de Cabo Verde. Era necessário termos um estrutura do poder que respondesse às necessidades e aspirações da população", lembrou.