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Angola: Madeireiras contra novos contratos de concessão

José Adalberto (Huambo)
6 de maio de 2022

Alterações introduzidas pelo Executivo angolano nos modelos de exploração de madeira estão ser alvo de contestação. As empresas dizem que não são capazes de pagar os valores exigidos, acima dos 230 mil euros.

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Exploração de madeira
Foto: DW/J. Beck

Em Angola, o Governo e as empresas do setor madeireiro estão desencontrados quanto aos modelos de exploração da madeira. As recentes alterações introduzidas pelo Executivo, com a introdução dos contratos de concessão para a exploração para um período de 25 anos, em detrimento das licenças anuais, estão ser alvo de contestação.

O Executivo justifica a introdução dos contratos de concessão a 25 anos com a necessidade de melhorar a organização da atividade florestal no país e aumentar os lucros gerados pelo setor.

"Em determinadas regiões temos dificuldades na forma como os diferentes operadores, licenciados ou não, operam na floresta. Há incumprimento de regras e procedimentos que trazem consequências negativas, não só ao ambiente, mas para a economia do país", explica o ministro da Agricultura, Pecuária e Pescas, António Francisco de Assis.

Empresários ouvidos pela DW África nas províncias do Huambo e Cuando Cubango dizem que a medida pode levar muitas firmas à falência por não possuírem capacidade financeira para aderirem aos contratos. Para o efeito, precisam de valores acima dos 100 milhões de kwanzas, o equivalente a mais de 230 mil euros.  

Punições severas

Os empresários lamentam o facto de não terem sido consultados pelo Executivo antes da tomada de decisão, enquanto parceiros sociais. 

"Não nos consultaram, não houve nenhuma reunião, nós só ouvimos pela televisão que o Conselho de Ministros esteve reunido e tomou a decisão. Mas não nos disseram nada", contesta Dinis Alexandre, proprietário da empresa DAS E FILHOS LDA, que opera entre o Huambo e Cuando Cubango.

A decisão, no entanto, está tomada. E, segundo o ministro da Agricultura, estão previstas punições severas para quem fizer o trespasse de uma licença, bem como para quem a comprar. Os infratores serão proibidos de operar e colocados numa lista negra. 

Exploração de madeira no Cuando Cubango
Estão previstas punições severas para quem fizer o trespasse de uma licença, bem como para quem a comprarFoto: Adolfo Guerra/DW

Mas os empresários do Huambo e Cuando Cubango temem que o aviso seja pouco eficaz, uma vez que grande parte das empresas locais, na sua maioria pequenas e médias empresas, não têm capacidade financeira para suportar os encargos.  

"Esta decisão é para falir e enterrar as empresas, porque nenhum banco vai ter 100 ou mais milhões de kwanzas. E quando uma empresa estiver disposta a explorar, terá de recorrer a uma empresa estrangeira", lamenta Dinis Alexandre, que também pertence à Associação dos Madeireiros de Angola.

Melhor fiscalização e mais receitas

Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pescas indicam que, em 2021, o Estado arrecadou cerca de 15 milhões de dólares, um valor considerado baixo pelo ministro António Francisco de Assis, dado o potencial do país. O Executivo quer inverter esta tendência.  

O ambientalista Léo Paxi, diretor executivo da organização não-governamental Ação Florestal, concorda com a medida. Acredita que vai contribuir para melhorar a fiscalização da atividade dos madeireiros e gerar mais receitas para os cofres do Estado.

"Assim, pelo menos, é possível supervisionar todo o trabalho dos madeireiros e haverá mais controlo de quem está, realmente, a explorar. Com a concessão das licenças anuais não acontecia isso."

O memorando aprovado na semana passada pelo Conselho de Ministros visa ainda, a médio prazo, promover a implementação dos mecanismos de certificação florestal e apícola, a fim de tornar competitivos e valorizados a madeira e o mel de produção nacional e, assim, facilitar a sua inserção no mercado internacional.

Pretende ainda promover a criação de associações e cooperativas de produtores de carvão vegetal, para permitir a introdução de medidas de reflorestamento e de gestão sustentável dos recursos florestais e o controlo desta atividade.

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