Ambientalistas dizem não ao milho transgénico em São Tomé
8 de maio de 2017Transgénico ou híbrido? É ou não prejudicial ao ambiente e à saúde? São questões que alguns são-tomenses no país e na diáspora colocam a propósito da espécie de milho para ração animal que técnicos chineses estão a introduzir em São Tomé e Príncipe.
Para esclarecer estas e outras dúvidas, decorreu no último sábado (06.05) na capital portuguesa, Lisboa, um debate público organizado pelo Grupo de Acção e Intervenção Ambiental (GAIA).
"A introdução de qualquer milho que seja em São Tomé e Príncipe nunca seria uma questão muito pacífica", lembra Lanka Horstik, uma das dirigentes da organização não-governamental portuguesa.
Para a ambientalista, o mais preocupante é a "falta de clareza" sobre a variedade de milho utilizada, por que motivo é que está a ser produzido e a quem vai beneficiar. "Com estas questões depois vem, por arrasto, uma série de questões ambientais e de saúde pública se for efetivamente um transgénico", acrescenta.
É preciso "informação séria"
O Governo devia proporcinar mais debates, "permitir à população ter muito mais informação sobre a questão, informação séria", defende Rufino Santo, professor e escritor são-tomense, presente no encontro em Lisboa. "Se a plantação não traz prejuízos, prova-se que a plantação não tem prejuízos e que, por outro lado, se for benéfica para São Tomé e Príncipe, é natural que não se tem de travar a plantação", argumenta.
Para a socióloga são-tomense Cláudia Costa, o debate na capital portuguesa trouxe algum contributo no plano de mais informação técnica e estratégica sobre como ligar com esta problemática, mas também sobre o que deve ser pensado a médio e a longo prazo em termos de desenvolvimento agrícola e autosuficiência alimentar.
"Suponho que a questão do milho é uma questão de curto prazo e que a estratégia a longo prazo não está a ser ponderada", sublinha. A socióloga acredita que o que falta é "uma estratégia que subsista a este executivo, aos próximos executivos , mas que seja um compromisso de um país para a frente [para o futuro], que seja autosustentável e que, sobretudo, garanta a satisfação alimentar de todos."
O debate em Lisboa surgiu na sequência da polémica gerada pela introdução de milho dito transgénico destinado à ração animal. O Governo são-tomense e técnicos chineses a trabalhar no país fizeram um desmentido público, afirmando que a espécie em fase de experimentação na zona de Mesquita, no centro de São Tomé, é híbrida, não é prejudicial à saúde da população nem afeta o ambiente.
Greve de fome
"Não se decide um teste deste a céu aberto sem pelo menos calcular os riscos possíveis", frisa a ativista Elsa Garrido, à volta da qual nasceu um movimento anti-OGM (Organismos Geneticamente Modificados). A ambientalista, membro da Greenpeace, decidiu iniciar uma greve de fome frente à Embaixada de São Tomé e Príncipe em Lisboa, desde 26 de abril, para pressionar o Ministério da Agricultura são-tomense a suspender a plantação.
"Se o milho for bom melhor ainda, estamos todos de parabéns. Mas se for um milho que na fase de pólen arrisca contaminar outras plantações, causar insuficiências respiratórias nas crianças, será que o Hospital Central Ayres de Menezes está pronto a suportar um [eventual] surto de uma consequência qualquer?", pergunta a ativista.
Elsa Garrido exige um parecer técnico e pede transparência por parte do ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Teodorico Campos, no sentido de clarificar, com base em estudos científicos independentes, que espécie de milho está a ser experimentado em São Tomé.
A ambientalista lembra que não se sabe sequer o tipo de agrotóxicos usados no tratamento do milho, se podem contaminar a água, matar animais ou outras consequências. "É muito importante que se avalie os riscos antes de implementar e fazer experiências no nosso país. Não podemos servir de laboratório de testes de todo o género", critica.
A ativista são-tomense está determinada a prosseguir a greve de fome até que o Governo do arquipélago retroceda na sua decisão. "Em caso de urgência a desgraça não vai escolher se o são-tomense vota à esquerda ou à direita. A desgraça tocará a todos nós", alerta.
O movimento anti-OGM, que tem usado as redes sociais para alertar sobre o problema, lamenta o desconhecimento por parte de grande parte da população em São Tomé e Príncipe porque os meios de comunicação estatais não têm divulgado qualquer informação sobre o que realmente se passa.