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"A Guiné-Bissau tem explorado pouco os acordos com a China"

António Cascais
9 de julho de 2024

O Presidente guineense estará na China, entre 10 e 12 de julho, para "renovar" a intensa "cooperação". Analista diz que a relação sino-guineense é "privilegiada", embora reconheça que falta transparência nos acordos.

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Chefe de Estado Guineense Umaro Sissoco Embalo na Rússia
Chefe de Estado Guineense Umaro Sissoco Embalo na RússiaFoto: Alexei Maishev/TASS/dpa/picture alliance

A China é um dos maiores parceiros internacionais da Guiné-Bissau. Os dois países cooperam há vários anos em diferentes áreas como educação, saúde, pesca e defesa. As maiores infraestruturas públicas da Guiné-Bissau foram construídas no quadro da cooperação com a China.

Na primeira deslocação do Chefe de Estado Guineense Umaro Sissoco Embalo à China, tenciona-se rubricar um acordo quadro geral de cooperação entre Bissau e Pequim, de acordo com fontes governamentais.

Em entrevista à DW o analista politico guineense, Diamantino Domingos Lopes elogiou a cooperação sino-guineense, mas também crítica a falta de transparência, pois o teor dos contratos normalmente não é divulgado. Sabe-se que há mais de 70 barcos de pescas chineses a operarem em águas da Guiné-Bissau, e que os chineses estão interessados na castanha de cajú, na bauxite e noutras matérias-primas, diz o analista.

Lopes apontou durante a entrevista o que considera de falta de capacidade da Guiné-Bissau de aproveitar este interesse da China nos recursos do país e apresentar propostas credíveis e viáveis capazes de dinamizar a economia nacional.

Diamantino Lopes, analista político
Diamantino Lopes, analista políticoFoto: Iancuba Dansó/DW

DW África: As relações entre a Guiné-Bissau e a China são particularmente intensas mais do que a Guiné e outras países da Africa Ocidental, vizinhos da Guiné-Bissau. Será que a Guiné-Bissau tem uma relação privilegiada com a China ou até uma relação de maior dependência? Como descreveria a relação entre a Guiné-Bissau e a China?

Diamantino Lopes (DL): Eu diria que é uma relação privilegiada, isto tendo em conta os padrões históricos que unem os dois países ao longo dos tempos.

O problema que se põe é a capacidade da Guiné-Bissau de apresentar propostas credíveis e viáveis capazes de dinamizar a economia nacional e as infraestruturas públicas. Esta capacidade tem faltado a Guiné-Bissau em comparação com outros países. É o que eu noto na nossa relação de cooperação com a China. Mas pronto agora eu acho que vamos inaugurar uma nova era de cooperação no setor agrário, faz todo sentido apresentar novas propostas.

DW África: Uma parte considerável da ajuda, digamos, não são créditos, mas sim dádivas da China. Mas como é sabido, nas relações internacionais não há almoços grátis. O que a China espera em troca dessas dádivas?

 DL: Quando se vê [essa relação] pensa-se que a Guiné-Bissau não tem muito a oferecer, mas tem. Tem mais 70 navios chineses ou das empresas chinesas a pescarem nos mares da Guiné-Bissau, isso é muita coisa e, portanto, existe algo em troca. É claro que não há almoço de graça, por isso estão a investir e além dessas questões estratégicas da política, tem recursos naturais que estão a explorar aqui na Guiné-Bissau e a China tem os olhos bem afiados nesses recursos naturais. O problema que se põe é que não conseguimos ver os documentos rubricados em diferentes acordos assinados, do que é que vamos dar em troca para a China.

Esforços dos EUA para manter o domínio na relação com África

DW África: Existem vários programas de intercâmbio, bolsas para estudantes, jornalistas, funcionários públicos e da administração que podem visitar regularmente a China. Isso influencia também muito o estado de coisas no sentido da China ou não?

DL: Influencia sim, porquê uma das coisas que a China ainda não conseguiu expandir para o mundo é a sua cultura. Portanto, a China está interessada em expansão cultural e essas visitas permitem que as pessoas conheçam na cultura, conheçam a gastronomia e o estilo de vida dos chineses.

Então, elas têm noção disso, por isso criem ações, programas de visitas internacionais, claro, para permitir que as pessoas tenham noção real do país.

DW África: Como enquadraria a influência da China atualmente, na Guiné-Bissau, comparando com outras potências como a União Europeia, Estados Unidos ou a Rússia? A China tem um peso particularmente grande comparando com outras potências na Guiné-Bissau,?

DL: Em termos de relação ou de ajuda direta, a China tem uma presença forte na nossa economia.  A presença da China é bem notável aqui, quase as principais infraestruturas pública foram construídas pela China, o Palácio do Governo, o Palácio de Justiça, a Assembleia Nacional e própria reabilitação do Palácio da República.

Tem agora, essa estrada Aeroporto-Safim, o Porto tradicional de Bandim, portanto, é visível o apoio da China.

A China investiu tanto aqui o nosso principal estádio de futebol (Estado nacional, 24 de setembro) foi construído e reabilitado pela China. Você vê a Guiné-Bissau e vê a mão da China, o que não acontece com outros parceiros de cooperação, mas com a China é totalmente diferente. E muitos guineenses foram formados na China.