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África: Depreciação de moedas alimenta a inflação

Muteti Ngwili
13 de julho de 2023

Em 2023 as moedas africanas perderam terreno em relação ao dólar americano, exacerbando a inflação num continente dependente de importações. O esgotamento das reservas de dólares limita as opções para travar o declínio.

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Angola Luanda Kwanza
Foto: DW/V. T.

As moedas nacionais da África Subsariana entraram numa espiral descendente em relação ao dólar americano, causando problemas sérios a cidadãos e empresas.

"Não conseguimos comprar a mesma quantidade de bens que costumávamos comprar, os nossos volumes de capital e de comércio caíram drasticamente, empurrando as nossas empresas para a falência", disse à DW Joseph Obeng, presidente da Associação dos Comerciantes do Gana (GUTA).

Porque desvalorizam as moedas?

Por detrás do declínio das moedas africanas está uma mistura de questões internas e externas. A maioria das economias do continente não conseguiu recuperar completamente das perturbações económicas causadas pela pandemia de COVID-19.

A depreciação prende-se também com a subida das taxas de juro nos EUA. "O dólar mais forte leva à saída de capitais de África, uma vez que os investidores procuram obter melhores retornos ajustados ao risco dos seus investimentos nos EUA", explicou à DW Stephen Akpakwu, diretor de consultoria independente Crossboundary Advisory, acrescentando que a saída de capital obriga o país a aumentar as taxas de juro locais para manter a paridade.

Mercado de Lomé, no Togo
O custo de vida disparou em ÁfricaFoto: Ute Grabowsky/photothek/IMAGO

Outro motivo para a depreciação é a fraca procura de exportações africanas num contexto de preocupações com a recessão global.

Muitos países subsarianos dependem de uma gama restrita de produtos básicos para obter divisas. Isto significa que, quando a procura global desses bens cai, o valor das moedas também desce, devido a uma queda nas receitas estrangeiras.

O abrandamento económico global causado pela guerra russa na Ucrânia resultou igualmente numa menor procura de exportações africanas. A guerra também fez aumentar em parte os custos de importação de alimentos e combustíveis, esgotando ainda mais as reservas de divisas na região.

Aumento de custo de vida

Por toda a África, os cidadãos queixam-se da subida em flecha dos preços dos bens importados, que aumentaram o custo de vida. Os importadores lamentam a incapacidade de obter bens em volumes suficientes, por causa do declínio do valor das suas moedas.

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Quando as moedas depreciam em relação ao dólar as importações encarecem, uma vez que a maioria está denominada em dólares americanos.

"Não podemos ter lucros, porque os nossos clientes já não têm poder de compra", explica Obeng.

Também aos défices orçamentais - a diferença entre as receitas totais de um governo e as suas despesas – cabe parcialmente a responsabilidade pelo aumento da procura de dólares. Cerca de metade dos países da África Subsariana registaram défices superiores a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, o que colocou pressão sobre as suas taxas de câmbio, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O naira nigeriano foi o maior perdedor, tendo caído mais de 70% em relação ao dólar em 2023.

Quais são as consequências para as economias africanas?

Mais de dois terços das importações na maioria dos países da África Subsariana são serem cotados em dólares, tornando a região muito vulnerável a uma apreciação do dólar.

"Um aumento de um ponto percentual na taxa de depreciação em relação ao dólar americano conduz, em média, a um aumento da inflação de 0,22 pontos percentuais no primeiro ano na região", escreveu o FMI num blogue em maio. "Há também provas de que as pressões inflacionistas não diminuem rapidamente quando as moedas locais reapreciam face ao dólar americano".

Com 60% da dívida externa da África Subsariana está cotada em dólares. A desvalorização aumenta o custo do pagamento da dívida aos credores internacionais.

Bananeira na Costa do Marfim
O continente está demasiado dependente da exportação de produtios básicosFoto: Getty Images/AFP/I. Sanogo

O que fazem os governos para resolver a situação?

Diferentes governos adotaram diversas medidas para suster as suas moedas. Alguns governos recorreram a políticas monetárias mais restritivas, incluindo a subida das taxas de juro. Muitos bancos centrais também tentaram impulsionar as suas moedas injetando dólares das suas reservas no mercado cambial local, mas com as reservas a esgotarem-se rapidamente, as opções são limitadas.

No Quénia, o Governo planeia aumentar os impostos para fazer face aos défices orçamentais e reduzir os empréstimos em dólares.

Na Nigéria, o Governo racionou o comércio de divisas através para ajudar a estabilizar o naira.

A Etiópia optou por medidas mais rigorosas, como a proibição de transações em moeda estrangeira por parte das empresas locais.

Akpakwu diz que os governos ainda podem fazer mais, dando prioridade ao financiamento em moeda local para a proteger contra a exposição ao aumento das taxas. Acrescenta que os governos devem diversificar as suas capacidades de produção, para evitar uma dependência excessiva das exportações de produtos básicos, introduzindo políticas industriais que impulsionem o crescimento em diferentes setores.