"Estou pronto para falar com qualquer pessoa", diz Nyusi
20 de novembro de 2015O Presidente moçambicano Filipe Nyusi apelou aos homens residuais da maior força da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), para entregarem voluntariamente as armas, afirmando que "se a entrega das armas não for feita à vontade, a paz não poderá acontecer."
O chefe de Estado e Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas falava durante uma cerimónia de graduação de guardas penitenciários, esta quinta-feira (19.11), no distrito da Moamba, no sul do país. Nyusi fez o apelo depois de consultar várias personalidades nacionais e estrangeiras.
"No espírito da concórdia, reconciliação e tolerância, de modo a permitir que a sociedade se reencontre e consigamos restabelecer o diálogo que todos os moçambicanos esperam, usamos esse pódio para instruir a ponderação do desarmamento compulsivo e permitir para que todos possam voluntariamente entregar aquilo que acham que não devem possuir, mas sobretudo para nos permitir trabalhar e dialogar", afirmou Filipe Nyusi.
O momento ideal
O analista e académico Calton Cadeado considera que o chefe de Estado escolheu um momento ideal para fazer a sua declaração: Nyusi discursou "diante das Forças de Defesa e Segurança, que são aqueles que devem garantir a paz, segurança e integridade territorial e a sobrevivência desse Estado. São eles os primeiros a ter a responsabilidade de garantir a coesão sociopolítica."
O desarmamento compulsivo dos homens armados da RENAMO está em curso desde o início de outubro e, ainda este mês, o ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro, disse no Parlamento que o processo iria continuar até ser recuperada a última arma em mãos não autorizadas.
Na sequência do desarmamento compulsivo, têm sido reportados confrontos entre forças governamentais e da RENAMO, com registo de vítimas, incluindo civis, e a fuga das populações das suas zonas de origem no centro do país.
Presidente aberto ao diálogo
O Presidente moçambicano reafirmou, no entanto, que está aberto ao diálogo: "Estou pronto para falar com qualquer pessoa que seja, incluindo a liderança do partido RENAMO, para podermos encontrar soluções para o sossego dos moçambicanos."
O diálogo político entre o Governo e a RENAMO está suspenso há vários meses. O líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, mantém-se em silêncio depois de ter sofrido duas emboscadas em setembro e de a sua residência ter sido cercada em outubro, levando-o a refugiar-se em local incerto.
Para Calton Cadeado, a iniciativa do Presidente Nyusi é de paz, "num contexto em que todos falam do discurso da paz".
"Vamos encontrar mais um discurso de promessas, no sentido de vontade política para o diálogo, e não necessariamente discursos que incluam a ameaça", diz o analista.