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Risco de demência é maior entre futebolistas, diz estudo

17 de março de 2023

Pesquisa revela que jogadores de futebol de elite são mais propensos a desenvolver doenças neurodegenerativas em comparação com a população em geral. Estudo avaliou mais de 6 mil atletas da Suécia.

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Dois jogadores cabeceiam a bola ao mesmo tempo
Uso constante da cabeça pelos jogadores pode aumentar chances de os atletas desenvolverem doenças neurodegenerativas Foto: CHRISTOF STACHE/AFP

Jogadores de futebol de elite possuem mais chances de desenvolverem doenças neurodegenerativas em comparação com a população em geral, revelou um estudo publicado nesta sexta-feira (17/03) na revista científica The Lancet Public Health. Essa tendência, porém, não se aplica a goleiros.

Os pesquisadores que avaliaram jogadores da Suécia afirmam haver provas convincentes que associam a prática do esporte com um risco mais alto de demência, ao mesmo tempo em que vem aumentando a preocupação com dos males gerados por contusões na cabeça em esportes como o rúgbi e o futebol americano.

Enquanto lesões cerebrais como concussões podem ser menos comuns no futebol do que em outros esportes, o uso constante da cabeça pelos jogadores já vinha sendo associado a casos de demência.

O novo estudo analisou registros médicos de mais de 6 mil atletas masculinos da primeira divisão da Suécia entre 1924 e 2019. Os pesquisadores compararam os índices de doenças neurodegenerativas em 56 mil homens na mesma faixa etária.

As análises mostram que os jogadores tem 1,5 vezes mais chances de sofrerem da doença de Alzheimer e outros tipos de demência do que as demais pessoas. A exceção são os goleiros, que raramente cabeceiam a bola, cujos registros médicos não indicaram maior chance de lesões cerebrais.

"As conclusões apoiam a hipótese de que os cabeceios podem ser a explicação dessa associação", afirma Peter Ueda, autor principal do estudo e pesquisador do Instituto Karolinska da Suécia.

Ueda diz que esta é a maior pesquisa realizada sobre o tema, desde um estudo escocês de 2019 que sugeria que os futebolistas estariam 3,5 vezes mas propensos a sofrer doenças neurodegenerativas.

O estudo sueco também concluiu que os jogadores de futebol têm uma vida ligeiramente mais longa do que os homens de mesma média de idade. Segundo Ueda, isso pode estar relacionado com os níveis mais altos de exercícios físicos e com as condições socioeconômicas desses atletas de elite.

Futebol mais intenso pode significar mais riscos

O estudo não encontrou risco de doenças do neurônio motor como esclerose lateral amiotrófica entre os futebolistas, além de uma probabilidade um pouco menor para a doença de Parkinson.

Ueda, no entanto, alertou que o estudo observacional não permite concluir que a prática do futebol causa demência, e que as conclusões não podem ser estendidas para as atletas mulheres, os amadores ou os mais jovens. Em razão do longo intervalo entre o período da atividade esportiva e o desenvolvimento das doenças neurodegenerativas, muitos dos jogadores avaliados atuaram na metade do século 20.

Dessa forma, melhores equipamentos, e treinamentos e mais conhecimento podem ter deixado o esporte mais seguro para os profissionais dos dias de hoje, afirma Ueda. "Entretanto, é possível também especular que, o fato de os jogadores atuais estarem expostos a um futebol mais intenso desde idades mais jovens poderia significar que os riscos para eles seriam ainda mais altos."

Risco maior no rúgbi

As pesquisas sobre lesões na cabeça durante práticas esportivas e seus efeitos após ao fim da carreira profissional vêm aumentando nos últimos anos, especialmente no rúgbi.

Uma pesquisa do ano passado indicava que os atletas de rúgbi teriam 15 vezes mais chances de desenvolver doenças do neurônio motor.

Sindicatos de jogadores entraram com ações na Justiça contra diversas entidades que administram o esporte, alegando que elas fracassaram ao proteger os atletas de lesões permanentes.

rc/cn (AFP)