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ConflitosAfeganistão

ONU arrecada 2,4 bilhões de dólares em ajuda ao Afeganistão

1 de abril de 2022

Valor prometido por 41 países em conferência virtual, porém, é apenas cerca de metade do esperado pelas Nações Unidas para lidar com a crise humanitária no país, onde 95% da população não têm comida suficiente.

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Dois homens idosos e duas crianças em uma fila
Afegãos fazem fila ara receber pãoFoto: WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images

Uma conferência internacional de doadores realizada nesta quinta-feira (31/03) pela ONU de forma virtual, em conjunto com Alemanha, Reino Unido e Catar, terminou com promessas de doações de 2,4 bilhões de dólares em ajuda humanitária ao Afeganistão. O montante, prometido por 41 países, ficou aquém do esperado e representa 55% da meta da ONU, de 4,4 bilhões de dólares.

No entanto, após a apresentação dos resultados, a secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários da ONU, Joyce Msuya, manifestou a esperança de que os países doadores "aumentem os compromissos assumidos e continuem apoiando a resposta humanitária no Afeganistão", país golpeado por décadas de conflito e pela sua pior seca em 30 anos.

Os 4,4 bilhões de dólares representaram o maior pedido de ajuda a um único país na história dos programas humanitários da ONU e, segundo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, são vitais para ajudar o país, onde atualmente 95% da população não têm comida suficiente.

"Nove milhões de pessoas correm o risco de passar fome e um milhão de crianças desnutridas correm o risco de morrer se não forem tomadas medidas rápidas", destacou Guterres na conferência.

"As pessoas já estão vendendo seus filhos, ou mesmo partes de seus corpos, para alimentar suas famílias. A economia do Afeganistão já está em colapso", lamentou o secretário-geral da ONU, que também alertou que, sem assistência humanitária, 97% da população afegã viverão abaixo da linha da pobreza este ano.

Com os 4,4 bilhões solicitados, as várias agências da ONU têm como objetivo ajudar cerca de 22 milhões de afegãos (mais da metade da população) com alimentos, água potável, assistência médica, abrigo, instalações educacionais e outras formas de ajuda humanitária.

Uma criança afegã empurra um carrinho de mão em um campo de deslocados em Cabul
Cerca de um milhão de crianças afegãs estão com desnutriçãoFoto: Saifurahman Safi/Xinhua/picture alliance

Guerra na Ucrânia agrava situação

De acordo com Guterres, a já terrível situação humanitária no Afeganistão deteriorou-se de forma alarmante nos últimos meses e intensificou-se ainda mais com a guerra na Ucrânia, que fez os preços globais dos alimentos subirem "vertiginosamente".

"Isso significa uma catástrofe tanto para os afegãos que lutam para alimentar as suas famílias, quanto para as nossas operações de ajuda. Sem ação imediata, enfrentamos uma crise de fome e desnutrição no Afeganistão", disse o secretário-geral.

Outro fator que agrava a situação no país da Ásia Central é que muitos programas de ajuda internacional foram interrompidos após a volta do Talibã ao poder, em agosto do ano passado.

"A comunidade internacional precisa encontrar maneiras de poupar os afegãos do impacto da decisão de interromper a ajuda ao desenvolvimento do país ou congelar 9 bilhões de dólares em ativos do Afeganistão no exterior", disse Guterres, que acrescentou que "os países mais poderosos não podem ignorar as consequências de suas decisões sobre os mais vulneráveis".

A resposta insuficiente da comunidade internacional à crise humanitária afegã, no entanto, não é novidade neste momento de turbulência devido à guerra na Ucrânia e seu impacto na economia global. Em outra conferência organizada pela ONU recentemente para financiar a ajuda humanitária para a crise no Iêmen, apenas 1,3 bilhão de dólares dos 4,27 bilhões pedidos foram obtidos em promessas de doações.

Promessas de ajuda

A União Europeia (UE) anunciou na quinta-feira a disponibilização este ano de 95 milhões de euros para assistência humanitária ao Afeganistão. A verba soma-se a outros 18 milhões este ano ao Irã e ao Paquistão, vizinhos do Afeganistão, num apoio total de 113 milhões de euros, indicou a instituição em comunicado.

O Reino Unido, um dos organizadores da conferência, prometeu 380 milhões de dólares em financiamento humanitário, com pelo menos 50% da ajuda direcionados para mulheres e meninas afegãs.

A Alemanha fornecerá mais 200 milhões de euros, disse a ministra do Exterior, Annalena Baerbock, que também participou da conferência. 

O Departamento de Estado americano informou que Washington prometeu quase 204 milhões de dólares, elevando o valor total da ajuda humanitária fornecida pelos EUA desde agosto de 2021 para mais de 720 milhões de dólares.

Muitas meninas de véu e roupa preta em frente a uma escola.
Meninas afegãs foram proibidas pelo Talibã de frequentarem ensino médioFoto: Ahmad Sahel Arman/AFP/Getty Images

Proibição de meninas irem à escola

A reunião ocorre dias após o Talibã anunciar a proibição de que meninas frequentem a escola, apesar das promessas, ao assumir o poder, de que isso não ocorreria.

Guterres disse que a educação não deve ser usada como moeda de troca. No entanto, também lembrou os países doadores que o povo afegão não deve ser penalizado duas vezes.

Os participantes expressaram seu apoio ao povo afegão e pediram ao Talibã que reverta sua decisão. Eles também enfatizaram que suas doações devem ser distribuídas aos necessitados sem interferência do partido no poder.

Vários países, incluindo China e Rússia, pediram a normalização do sistema bancário do Afeganistão e a liberação das reservas do banco central do país, congeladas em sanção ao Talibã.

O coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, falando na conferência de Doha, na semana passada, disse que ficou "sem palavras" pelo nível de sofrimento no Afeganistão.

Segundo ele, a vida está "por um fio para mais da metade das pessoas no Afeganistão". "Estamos apenas conseguindo evitar a extrema insegurança alimentar, preservando alguns serviços essenciais e quase impedindo um colapso completo do país", destacou, acrescentando que a situação é "incrivelmente frágil."

Griffiths se encontrou com líderes do Talibã em Cabul nesta semana e disse ter uma "firme convicção" de que a porta ainda está aberta para conversas com a comunidade internacional. Isso incluiu a resolução da questão da educação das meninas, afirmou.

Mas ele ponderou que um "financiamento sustentável, incondicional e flexível" é necessário para alcançar mais pessoas e colocar dinheiro de volta na economia e nos bolsos dos afegãos comuns. Formas de trazer o país de volta ao sistema bancário internacional seriam vitais para a entrega de ajuda humanitária, acrescentou Griffiths.

Conferência paralela

Em uma conferência paralela nesta quinta-feira, sete dos países vizinhos ao Afeganistão pediram que o Talibã respeite os direitos das mulheres e garanta a educação das crianças.

Os direitos básicos de todos os afegãos, incluindo membros de minorias étnicas, mulheres e crianças, devem ser garantidos, informou um comunicado conjunto divulgado no final da reunião em Tunxi, no sudeste da China.

Os participantes da terceira reunião dos Estados litorâneos incluiu a participação de ministros das Relações Exteriores e outros altos funcionários de China, Rússia, Irã, Paquistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão.

le/rw (AFP, dpa, Lusa, EFE)