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Macron, o presidente sem partido

9 de maio de 2017

Ex-ministro chegou ao poder com campanha que buscou se distanciar das grandes legendas da França. Mas, agora no governo, ele poderá precisar do amparo das mesmas forças políticas que rejeitou.

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Frankreich Präsident Emmanuel Macron spricht vor dem Louvre in Paris
Macron a caminho do Louvre após a vitória: legislativas vão mostrar dimensão real do apoio a Em MarchaFoto: picture-alliance/AP Photo/P. Lopez

Emmanuel Macron não será somente o primeiro presidente da Quinta República que não provém de uma das duas legendas tradicionais francesas, mas também o primeiro que não foi apoiado por nenhum partido político durante a campanha eleitoral – ele recebeu apoio apenas do movimento Em Marcha, que foi iniciado há somente um ano.

Já o fato de ele ter ganhado a eleição sem um aparato partidário é visto como uma sensação e um sinal de uma nova era na França. Mas para impor suas metas políticas, ele precisa de uma base de poder na Assembleia Nacional, para a qual haverá eleições em meados de junho. Portanto, resta pouco tempo para fazer do movimento um verdadeiro partido.

Esse processo já se iniciou. Superficialmente, ele começa com uma pequena mudança de nome. "Em Marcha" deverá se transformar em "A República em Marcha". Nada vai mudar quanto ao seu direcionamento. Segundo as palavras de Macron, o movimento deve ser "progressivo" e "social", como ele próprio.

Estruturas decrépitas do antigo sistema político, afirma, deverão ser desmanteladas, não se quer ir nem para a esquerda, nem para a direita. Isso lembra um pouco o partido Ciudadanos na Espanha ou o movimento "Terceiro Caminho" do ex-premiê britânico Tony Blair, que também foi o chefe de governo britânico mais jovem em quase 200 anos. Com o Partido Trabalhista, no entanto, Blair era apoiado por uma legenda já existente, a que ele chamava de "Novo Trabalhista" após tê-la distanciado de um curso mais à esquerda. 

A caminho de um partido

Segundo o desejo de seu iniciador, Em Marcha deverá reunir todas as alas políticas e camadas sociais num grande projeto conjunto. Aí se encontram tanto componentes clássicos do liberalismo econômico – como a redução da participação estatal, a liberalização do mercado de trabalho e impostos corporativos mais baixos – quanto componentes social-liberais a social-democráticos, como mais investimentos na educação. De qualquer forma, haverá um grande programa de investimentos.

Macron agradece os franceses pela campanha vitoriosa

Mas um movimento pode se tornar um partido influente em tão pouco tempo? Cerca da metade dos seus atuais 250 mil membros vem da sociedade civil, ou seja, não são políticos profissionais, enquanto outros provêm de outras legendas. Com Richard Ferrand, existe ao menos agora um secretário-geral. "Para podermos agir, vamos precisar de maioria na Assembleia Nacional", ressaltou Ferrand à emissora de televisão TF1, acrescentando que se havia percorrido somente "metade do caminho".

Até as eleições legislativas, o partido em formação quer apresentar um candidato para cada um dos 577 assentos na Assembleia Nacional. O financiamento estatal só estaria assegurado se os membros também fossem eleitos, até lá vai continuar o período de vacas magras, que naturalmente também restringiu o financiamento da campanha eleitoral.

Quando foi fundado, em abril de 2016, Em Marcha foi saudado por políticos tão diversos quanto o ex-premiê conservador Jean-Pierre Raffarin e o presidente socialista François Hollande. Nenhum dos dois poderia imaginar que tanto o futuro candidato presidencial dos conservadores, François Fillon, quanto o socialista Benoît Hamon iriam cair no primeiro turno. Por outro lado, na ocasião, escutou-se uma crítica ferrenha do derrotado candidato da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que uma vez comentou sarcasticamente: "As pessoas que arruinaram o sistema econômico por completo fazem agora uma coisa que se chama Em Marcha."

Sem considerações táticas

Duas pesquisas de opinião forneceram um primeiro indício do futuro poder do Em Marcha na Assembleia Nacional: elas preveem que o movimento deve se tornar a principal força política parlamentar com 24% a 26% das intenções de votos – à frente dos conservadores e dos populistas de direita da Frente Nacional, ambos com cerca de 22%. Segundo as sondagens, o Partido de Esquerda, de Mélenchon, obteria em torno de 15% e os socialistas, por volta dos 9% da preferência do eleitorado. No entanto, recomenda-se cautela.

Pois as considerações táticas para impedir que Marine Le Pen se tornasse presidente já não valem mais para o pleito parlamentar; cada partido passa a lutar novamente por si próprio. Por outro lado, nas eleições legislativas francesas existe o fenômeno de os partidos moderados se unirem contra a Frente Nacional. Nesse contexto, o ex-primeiro-ministro socialista Manuel Valls já exortou a que Macron seja apoiado com uma ampla maioria parlamentar.

Se Macron não conseguir essa maioria, paira a ameaça de uma nova fase da "coabitação", em que o futuro presidente tenha que cooperar com representantes de outros partidos. No passado, presidentes socialistas da Quinta República já se viram obrigados, muitas vezes, a trabalhar junto a uma maioria parlamentar conservadora ou vice-versa – o que lhes atou as mãos.

No entanto, dependendo do projeto político, o futuro presidente francês também poderia tentar impor suas propostas com maiorias flutuantes. Mas isso também enfrentaria dificuldades, considerando que as reformas econômicas liberais de Macron deverão encontrar muita resistência – tanto no Parlamento quanto na população.

Raffarin, conservador e simpatizante de Macron, defendeu, um dia após a eleição, um inovador governo "Yin e Yang", que englobasse tanto "novos nomes" quanto políticos experientes. No entanto, muitos outros conservadores ainda não se recuperaram do fato de Macron lhes ter tomado uma vitória considerada como certa. Mélenchon também se atém ao seu profundo desagrado: ele afirmou que, nas eleições legislativas, os franceses deveriam se "unir" para enfrentar um "novo monarca presidencial".

"A resistência da direita é o maior perigo para Macron", opina o cientista político Philippe Braud, do renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris (Science Po). Ao mesmo tempo, afirma, uma esquerda forte poderia dificultar os planos de reforma de Macron, por meio de uma "Assembleia Nacional incontrolável".

Laurent Wauquiez, vice-presidente do partido conservador Os republicanos, apontou que muitos franceses votaram em Macron somente para impedir uma vitória de Marine Le Pen. "A situação de Macron é muito delicada, ele foi eleito sem muito entusiasmo." Nas eleições legislativas, se verá a real dimensão do apoio ao fundador do Em Marcha.