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Espionagem contra Alemanha tão intensa como na Guerra Fria

8 de junho de 2022

Relatório de órgão de segurança interna da Alemanha registra aumento de atividades hostis por serviços secretos desde início da guerra na Ucrânia. Número de extremistas potencialmente violentos também aumentou.

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Indivíduo olha através de binóculo
Desinformação marca praticamente todos os setores de ameaça à segurançaFoto: Kai Remmers/dpa/picture alliance

"A situação de segurança na Alemanha é tensa." No passado recente, quando o presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV) dizia algo assim, ele se referia sobretudo ao extremismo de direita. Este continua sendo "a maior ameaça", confirmou Thomas Haldenwang, ao apresentar em Berlim, ao lado da ministra do Interior, Nancy Faeser, o mais novo relatório do órgão que chefia.

No entanto ele ressalvou que "o nível das atividades de espionagem contra a Alemanha não fica mais nada atrás daquele do conflito Leste-Oeste até 1990". Nessa época, mais de 30 anos atrás, a queda do Muro de Berlim e das ditaduras comunistas do Leste Europeu dera fim à assim chamada Guerra Fria entre as superpotências União Soviética e Estados Unidos.

Em 1991, a URSS até mesmo se dissolveu, deixando a Rússia como seu mais poderoso e influente Estado sucessor. Agora, com seu comando para atacar a Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, cuidou para que "a perspectiva da ameaça pelos serviços de informação seja de aumentar, em vez de diminuir", segundo Haldenwang.

"Mentiras de Putin não colam na Alemanha"

Em princípio, todos os setores são alvos potenciais de espionagem por serviços secretos, da política e economia à ciência, tecnologia e forças militares. No que tange à defesa contra tentativas de ingerência hostil, porém, o BfV considera estar num bom caminho. Como exemplo, seu relatório cita a prisão de um colaborador científico da Universidade de Augsburg, na Baviera, em junho de 2021, que trabalharia para os serviços secretos russos.

Em outro caso, a acusação já pôde ser comprovada: em outubro de 2021, o Supremo Tribunal de Berlim condenou a dois anos em liberdade condicional um alemão que transferira, a um serviço de informações russo, dados sensíveis sobre prédios do Bundestag (parlamento alemão).

Depois da invasão da Ucrânia pelas tropas russas, Thomas Haldenwang prevê um "risco elevado de cibersabotagem contra estruturas críticas da Alemanha". Por isso, ele vem sensibilizando e advertindo seu departamento quanto aos setores potencialmente em perigo.

A ministra Faeser confirma que, com o começo da guerra, a situação de ameaça ganhou "uma nova dimensão". Está sendo necessário defender a segurança e a paz no país contra espionagem, tentativas de influência, mentiras e propaganda de guerra. Por outro lado, assegurou: "As mentiras de Putin não colam na Alemanha."

Essa avaliação vale pelo menos para a grande maioria da população, prosseguiu, porém os extremistas de direita, em especial, podem instrumentalizar a guerra na Ucrânia para seus próprios fins. Eles se aproveitam de toda crise para sua tentativa de "jogar as pessoas uma contra as outras e desestabilizar a sociedade". Nesse contexto, a política social-democrata lembrou o Plano de Ação contra o Extremismo de Direita iniciado por ela, o qual aposta em "prevenção e rigor".

Extremistas cada vez mais dispostos à violência

"Precisamos parar com a radicalização, desbaratar redes de extrema direita, acima de tudo, também, desarmar consequentemente os extremistas de direita", apelou Faeser. O atual relatório sobre segurança interna do BfV seria uma prova de dimensão do perigo que emana desses círculos.

Segundo o estudo, dos quase 34 mil extremistas de direita cadastrados em 2021, 13.500 estão prontos à violência, 200 a mais do que no ano anterior. O número de extremistas de esquerda é até ligeiramente mais alto, 34.700, porém os potencialmente violentos se limitam a 10.300.

No setor "islamismo / terrorismo islâmico", houve um retrocesso: o BfV registrou 28.300 integrantes, 400 a menos do que m 2020. No entanto Thomas Haldenwang alerta que o fato não é motivo para baixar a guarda.

Atualmente o órgão está processando um grande número de ocorrências com potencial de perigo – no pior dos casos, planos de atentados: "A situação é dominada, em especial, por pequenos grupos e criminosos agindo sozinhos, que são recrutados e radicalizados através da propaganda na internet."

Perante o grande volume de perigos, a conclusão do presidente do Departamento Federal alemão de Proteção da Constituição é: "Há ameaças reais, partindo de campos muito diversos, para nossa democracia, a liberdade e a segurança da população." Chama a atenção, porém, que a disseminação de desinformação afeta praticamente todos os setores examinados.

Marcel Fürstenau
Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.