Votar perto de casa não é para todos em Angola
18 de agosto de 2017Rosa Filipe atualizou o registo eleitoral na província da Huíla e, por isso, estava à espera de ir votar numa assembleia próxima da sua residência. Mas ficou preocupada quando percebeu que viu que a 23 de agosto terá de ir votar à província do Uíge, no interior-norte, e não tem condições para ir até lá.
"É difícil. Para além de ser muito distante, estou a passar por dificuldades financeiras. Então, não vai dar para lá ir", lamenta a eleitora.
Além de Rosa Filipe, estima-se que, pelo menos, 50 eleitores na província da Huíla tenham sido colocados em assembleias afastadas das suas casas.
Francisco António também fez o registo eleitoral na cidade do Lubango, na Huíla, mas ficou surpreendido quando o seu nome apareceu numa assembleia na província de Cabinda, a cerca de dois mil quilómetros de distância.
Francisco António, que não vai votar por não ter dinheiro para ir até Cabinda, sublinha que o seu direito ao voto está a ser violado. "É um dever do cidadão votar, mas também é um dever do Estado proporcionar condições para que o cidadão vote [próximo de] onde vive. Sinto-me mal, porque, neste caso, nem cidadão sou", afirma.
Reclamações na CNE
Têm chegado à Comissão Nacional Eleitoral (CNE) várias reclamações de eleitores que "viram a sua pretensão de votar numa determinada localidade não concretizada na Huíla", confirma o porta-voz Longa Paquete.
"Preocupa-nos saber que há eleitores que, por algum motivo que temos depois de estudar internamente, terão sido deslocados de determinadas localidades para onde deviam exercer o seu direito de voto para outras", afirma o porta-voz. Ainda assim, a Comissão Eleitoral diz não será possível resolver o problema antes das eleições da próxima quarta-feira.
Na semana passada, depois de dúvidas levantadas pela oposição sobre uma alegada transferência de eleitores para mesas de voto distantes da área de registo, a CNE informou que a indicação do ponto de referência dado pelos eleitores no ato de registo eleitoral não determinava a sua assembleia de voto.
A CNE constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda.