O poder do caniço em Inhambane
Em Inhambane, sul de Moçambique, o caniço tem sido o principal material usado na construção de muitas casas. Os habitantes acreditam assim preservar a cultura dos antepassados. Mas há cada vez menos caniço disponível.
Uma prática com história
O caniço é usado há várias gerações na construção de casas e quintais. Atualmente, também é aproveitado para locais de alojamento turístico ao longo da costa marítima da província de Inhambane. Para obter este material, são vários os perigos a ultrapassar no leito dos rios. Luísa Alberto corta e vende caniço. Com a atividade, consegue fazer o rancho de casa e pagar o dízimo na igreja.
Tudo em caniço
Em Inhambane, o caniço é aproveitado para quase tudo no contexto da construção porque sai mais barato. Até investidores turísticos usam o caniço em edifícios que funcionam como escritórios, entre outras atividades.
"Sou cortador e vendedor de caniço"
Rafael Vilankulo é cortador e vendedor de caniço no rio Furvela, distrito de Morrumbene. Consegue um rendimento mensal razoável e diz que não sente vergonha do seu trabalho. Conta que começou a cortar caniço com apenas dez anos de idade, por não ter conseguido emprego. Agora admite ser este o seu trabalho: "sou cortador e vendedor de caniço".
Estâncias turísticas feitas com caniço
Ao longo da costa marítima de Inhambane, várias estâncias turísticas são feitas com este material local. Os proprietários dizem que desta forma gasta-se menos com a compra de aparelhos de ar condicionado nos quartos, uma vez que o caniço permite uma boa ventilação. Os turistas adoram ficar alojados neste tipo de habitação.
20 anos a sobreviver à base do caniço
José Alexandre vive da venda do caniço que corta no rio Nhanombe, que separa os distritos de Maxixe e Morrumbene. Começou a atividade assim que voltou do serviço militar, na década de 90. Parou durante algum tempo quando foi fazer negócios na cidade de Maputo, mas, em 1998, voltou a Maxixe e à atividade, que exerce até hoje. Casou e tem dois filhos. Diz estar satisfeito com o seu trabalho.
Barracas para toda a família
"Barraca" é o termo usado para as casas em Inhambane, que são construídas no mesmo local para vários membros das famílias. Os filhos, quando crescem ou completam 18 anos, são obrigados a construírem as suas barracas (casas de caniço) no mesmo quintal onde vivem os pais, para melhor acomodarem as suas visitas, como amigos e namorada, preservando, assim, a cultura dos antepassados.
Um templo feito com caniço
Várias seitas religiosas têm igrejas feitas à base do caniço. Uma delas decidiu construir este templo, que será inaugurado brevemente no distrito de Morrumbene. Os crentes contribuíram para a compra do material durante alguns anos.
Negócio familiar
O comércio da venda de caniço para construção tem sido um negócio de família. É possível arrecadar, em média, mais de 5.000 meticais (70 euros) a cada 15 dias. Não é qualquer pessoa que consegue cortar e vender caniço, é uma atividade que vai passando de geração em geração. Os adultos ensinam os mais novos para, quando crescerem, saberem executar o trabalho sem dificuldade.
Escassez do caniço
Devido ao corte excessivo de caniço nos principais rios, já se nota escassez deste material, o que fez com que o preço triplicasse nos últimos dois anos. Os cortadores reclamam da falta do caniço de qualidade e outros perigos associados à atividade, como cobras e outros répteis perigosos. Ainda assim, ninguém parece querer abandonar a atividade, uma vez que ainda garante um bom rendimento.
O gosto pelo caniço
O uso do caniço é tido como bom gosto na construção de casas. Os projetos de construção podem basear-se em diferentes modelos de arquitetura, seguindo estilos mais europeus, asiáticos, americanos ou locais. O aumento da procura contribuiu para a escassez do material.
Uma sombra de caniço
Em residências, estâncias turísticas e restaurantes é comum haver pelo menos uma sombra feita com caniço, pois "o caniço é mais fresco e as pessoas respiram ar puro", dizem os proprietários. Ainda que o preço da venda aumente, pouco se reclama, pois todos gostam de seguir a cultura tradicional e típica de Inhambane.