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"Poderá haver dissidentes que não aderiram ao DDR"

António Cascais
15 de junho de 2023

À DW, o analista político Aunício da Silva acredita que, apesar do fecho da última base da RENAMO, poderá haver ex-guerrilheiros que não entregaram as armas. Mas "é preciso acreditar no calar definitivo das armas", diz.

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Desmobilizado da RENAMO com o seu kit de retorno
Desmobilizado da RENAMO com o seu kit de retornoFoto: A. Sebastião/DW

A última base do braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, foi encerrada hoje.

A cerimónia em Vunduzi, distrito de Gorongosa, na província central de Sofala, simboliza o início de uma nova era, mais de três décadas depois do fim da guerra civil moçambicana, salientou o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi.

"Podemos afirmar com segurança que o encerramento desta base demonstra determinação inabalável do meu Governo e da RENAMO em não mais voltar às hostilidades militares e consolidar a paz duradoura em Moçambique", disse Filipe Nyusi durante a cerimónia, em que também participou o líder da RENAMO, Ossufo Momade.

Em entrevista à DW África, o diretor do jornal Ikweli, Aunício da Silva, comenta que o encerramento da última base da RENAMO é um ato histórico para a pacificação do país. No entanto, acredita que ainda poderá haver ex-guerrilheiros que não tenham aderido ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), por contestarem a liderança de Ossufo Momade.

DW África: Como avalia este encerramento da última base da RENAMO?

Aunício da Silva (AS): Penso que é um bom acontecimento, na perspetiva de construirmos uma sociedade mais coesa, inclusiva, e acima de tudo, pensarmos numa paz definitiva. O ato está feito, agora esperemos que a inclusão e a reintegração [dos desmobilizados da RENAMO] aconteça como se espera. Este é um grande marco para a história multipartidária de Moçambique e do calar das armas no país.

Ossufo Momade, líder da RENAMO
Ossufo Momade, líder da RENAMOFoto: Bernardo Jequete/DW

DW África: O desmantelamento da última base da RENAMO já tinha sido anunciado várias vezes, com avanços e recuos. Acha que a RENAMO desta vez cumpriu? Não há qualquer homem armado?

AS: Tenho as minhas dúvidas que, de facto, todos os homens da RENAMO tenham sido desmobilizados e desarmados. Mas é preciso dar o beneficio da razão às entidades e às pessoas, é preciso acreditar que há um calar definitivo das armas em Moçambique.

DW África: Ossufo Momade tem o controlo de todos os homens que se dizem da RENAMO ou há fações dissidentes que não aceitam a sua liderança?

AS: Essa é a grande questão. Durante todo este período, houve sempre grupos de homens armados da RENAMO que vieram a público dizer que não concordavam com a liderança de Ossufo Momade, nem com o modelo do processo de DDR. Não seria novidade se houvesse um grupo de dissidentes que não tenham aderido ao processo.

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DW África: A questão que causou mais discordância foi o pagamento das pensões aos militares da RENAMO que entregam as armas. É algo que está resolvido, como alega o Governo moçambicano?

AS: Dizem que as questões estão ultrapassadas e que estão reunidas as condições de pagamento. Neste momento, a RENAMO é que mostrou grande vontade em acabar com os movimentos bélicos no país, ao entregar a sua base. Agora, esperemos que, do lado do Governo, as pensões sejam pagas.

DW África: Ossufo Momade disse que as "ilegalidades" no recenseamento eleitoral e o incumprimento da data prevista para as eleições distritais poderão pôr em causa a paz entre a RENAMO e a FRELIMO. Resta-lhe algum poder para fazer avançar as suas reivindicações?

AS: Acho que sim. Se ele for mesmo um líder carismático e com aceitação dos seus membros - e com a grande aceitação da RENAMO em regiões do centro e norte do país - Ossufo Momade pode muito bem mobilizar o eleitorado para reivindicar eleições justas, livres e transparentes, que é o que o povo espera.

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