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Gâmbia prepara-se para reeleger “um ditador disfarçado de democrata”

24 de novembro de 2011

A reeleição de Yayah Jammeh, nas presidenciais desta quinta-feira, é tida como certa.Tanto que a CEDEAO não enviará observadores por considerar que não há condições para uma eleição livre, justa e transparente.

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A recondução Yahya Jammeh é um dado quase adquirido
A recondução Yahya Jammeh, presidente cessante da Gâmbia, é um dado quase adquiridoFoto: AP

Quase 800 mil eleitores foram convocados às urnas para esta quinta-feira (24.11), um pouco menos da metade dos habitantes da Gâmbia, país ocidental africano que é praticamente um enclave no Senegal. Após onze dias de campanha eleitoral, a reeleição de Yahya Jammeh é tida como certa neste país que ele dirige desde 1994, depois de ter protagonizado um golpe de Estado.

População não beneficia do balanço económico positivo

A maioria dos habitantes da Gâmbia, um milhão e 700 mil no total, vive com menos de dois dólares por dia
A maioria dos habitantes da Gâmbia, um milhão e 700 mil no total, vive com menos de dois dólares por diaFoto: DW-TV

Segundo a agência noticiosa France Presse (AFP), apesar de ser acusado por organizações não governamentais de graves violações dos direitos humanos e da liberdade de expressão, Yahya Jammeh pode vangloriar-se de ter contribuído para o desenvolvimento da Gâmbia.

Em parte graças ao turismo, a taxa de crescimento da Gâmbia foi de 5,5% este ano. Infraestruturas modernas, ainda segundo a AFP, estradas, escolas e hospitais surgiram durante a gestão de Jammeh. O país vive principalmente da agricultura, com a produção de amendoim, e do turismo.

Por outro lado, o crescimento do Produto Interno Bruto não se traduz no nível de vida da população. A maioria dos habitantes, um milhão e 700 mil no total, vive com menos de dois dólares por dia.

“Uma ditadura que finge ser democracia”

Na perspetiva do analista Heinrich Bergstresser, do Instituto Alemão para Estudos Globais e Regionais (GIGA) a Gâmbia é uma democracia apenas na aparência. “O regime é tão repressivo que, para as pessoas que querem promover liberdade e democracia, é difícil continuar viver lá”, e acrescenta “Yayah Jammeh ainda é um militar no fundo da sua alma. A sua mentalidade não mudou. É como um sistema feudal no qual o presidente pode contratar e demitir qualquer pessoa, qualquer ministro ou prefeito a qualquer momento. É uma ditadura que finge ser uma democracia”.

Diante da incerteza sobre a transparência do escrutínio a CEDEAO decidiu não enviar uma missão de observadores à Gâmbia. A atitude da CEDEAO é justificada pelo fato desta organização considerar que: as condições de uma eleição livre, justa e transparente não estariam reunidas.

Heinrich Bergstresser saúda esta decisão. “Acho que é um grande passo adiante para promover a democracia. Talvez não afete o resultado da eleição, mas a CEDEAO defendeu uma posição. E isso, pelo menos a médio prazo, tem certas implicações que mostram para a oposição que ela pode continuar a desafiar o presidente”.

Oposição dividida

Uma imagem de Banjul, capital da Gâmbia
Uma imagem de Banjul, capital da GâmbiaFoto: Manuel Özcerkes

Em onze dias de campanha, a oposição não apresentou uma frente unida. Há dois candidatos na corrida contra Jammeh: Ousaino Darboe, de 63 anos, que concorre pela quarta vez, e Hamat Bah, de 51, que faz a terceira tentativa. O presidente Yahya Jammeh, de 46 anos, está no poder há 17 e tenta conquistar um quarto mandato de cinco anos. Ele venceu as três últimas presidenciais, organizadas desde 1996.

Para o analista Heinrich Bergstresser, a eleição desta quinta-feira não deverá trazer novidades na liderança política da Gâmbia. “Ele vai continuar e será difícil tirá-lo do poder pelas urnas. Enquanto Yayah Jammeh puder jogar o seu jogo de poder no país, o cenário atual vai continuar. O presidente vai continuar-se agarrando ao poder enquanto puder”.

Autor: Susan Houlton /Renate Krieger
Edição: Helena de Gouveia/António Rocha