Dhlakama anuncia mais 60 dias de trégua em Moçambique
3 de março de 2017"Convidei-vos para vos comunicar e declarar a prorrogação da trégua, a partir das 00:00 de 04 de março, amanhã [sábado], para dia 4 de maio deste ano de 2017, vamos ter mais uma trégua de 60 dias", disse Afonso Dhlakama, falando por telefone, a partir do distrito de Gorongosa, província de Sofala, centro do país, onde se encontra refugiado, para um grupo de jornalistas reunidos na sede da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) em Maputo.
Segundo Dhlakama, a trégua visa permitir que os grupos de trabalho constituídos pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, e pelo líder da RENAMO, no âmbito das negociações para a paz em Moçambique, desenvolvam o seu trabalho.
"Vamos ter mais uma trégua de 60 dias, para permitir o trabalho [dos grupos envolvidos nas negociações], mas também para fazer com que a economia do país funcione, o sossego volte, a paz é sagrada", acrescentou o presidente do principal partido da oposição.
Apesar de o país estar a enfrentar uma crise política, prosseguiu o líder da RENAMO, o povo merece o gozo das liberdades e o desenvolvimento económico e social.
Afonso Dhlakama declarou que a RENAMO e o Governo devem capitalizar o atual processo negocial para a criação de condições visando o alcance de uma paz efetiva e verdadeira, que garanta o gozo dos direitos e liberdades democráticos.
O dirigente assinalou que durante o período da trégua os grupos de trabalho sobre a descentralização e sobre os assuntos militares terão de apresentar propostas sobre aprofundamento do processo de descentralização e despartidarização das FDS.
"Também quero anunciar a criação dos grupos de trabalho, neste momento, posso confirmar que fizemos um trabalho, foi um trabalho de engenharia [política], desde dezembro para cá, conseguimos este consenso, não foi um trabalho muito fácil", assinalou Dhlakama.
Negociações retomadas segunda-feira
O líder da oposição confirmou igualmente a criação de um grupo de contacto formado por seis embaixadores acreditados em Maputo e pelo representante da União Europeia (UE), que vão ajudar os grupos de trabalho nas negociações de paz.Na terça-feira (28.02), o Presidente moçambicano convidou seis embaixadores acreditados em Maputo e o representante da UE em Moçambique para integrarem o grupo de contato para o apoio ao diálogo para a paz.
O líder da RENAMO anunciou que os grupos de trabalho do Governo e do principal partido da oposição vão reunir-se na próxima segunda-feira (06.03), para reiniciarem as negociações, interrompidas no final do ano passado sem acordo.
A trégua hoje decretada por Afonso Dhlakama é a terceira desde dezembro, depois da primeira, que durou uma semana, logo prorrogada para um segunda e por 60 dias, e que terminava no próximo domingo (05.03).
"Líder da RENAMO não tinha outra saída", diz analista
Em reação à prorrogação da trégua, o analista moçambicano Alexandre Chiure disse à DW África que é de "satisfação" e acrescenta: “Também devo dizer que o líder da RENAMO não tinha outra saída senão mandar prolongar a trégua porque depois dos avanços que foram alcançados no diálogo entre ele e o Presidente da República, em que tudo está a caminhar como eles próprios decidiram não havia lugar para ele decidir o contrário”.Para Alexandre Chiure, a expetativa da sociedade em relação à reunião dos grupos de trabalho (06.03) , é que desta vez haja entendimento entre as partes depois das anteriores comissões não terem alcançado acordo quanto às questões militares e de descentralização.
“É preciso que as partes saiam daquela situação de endurecimento de posições e saibam ceder de parte a parte de forma que o processo de negociação possa avançar com alguma celeridade”.
Pretende-se que a comissão especializada sobre a descentralização alcance um acordo sobre a matéria a tempo do Parlamento legislar sobre o assunto ainda este semestre. Alexandre Chiure considera o prazo “apertado” argumentando que se trata de matéria sensível.
“Acho que não se devia caminhar dessa forma. Deve-se dizer que vamos acelerar o processo. É verdade que há muita pressa em se chegar a paz, mas não se pode chegar de qualquer maneira porque senão ao fazer isso alguns assuntos não vão ter o aprofundamento necessário e mais tarde poderão levantar alguns problemas”.