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Católicos africanos acreditam em renovação com novo papa Francisco

14 de março de 2013

Autoridades da Igreja Católica e cidadãos de Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe têm opiniões diferentes sobre o novo Papa, Francisco, mas são unânimes quando dizem que ele é capaz de trazer mudanças à Igreja.

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Primeira missa celebrada pelo papa Francisco
Primeira missa celebrada pelo papa FranciscoFoto: Getty Images

Depois do discurso e da primeira oração pública, na Praça de São Pedro, em Roma, na quarta feira (13.03) quando foi eleito, o novo papa, Francisco, começou a quinta-feira (14) a rezar em privado.

A mídia em quase todo o mundo deu destaque à eleição do primeiro papa não europeu em treze séculos. A escolha pelo cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, para liderar os destinos da Igreja Católica, surpreendeu também a comunidade lusófona no continente africano.

Africanos se mostram surpresos

Antes do conclave (reunião de cardeais para eleger o novo papa), que começou na última terça-feira (12.03), Jorge Mario Bergoglio não era dos mais especulados pela imprensa. Inclusive quem lembrou disso foi Dom Gabriel Mbilingue, presidente da conferência Episcopal de Angola e São Tomé: "Na verdade, o nome deste novo papa não estava nem nas discussões nem prognósticos", lembrou Mbilingue.

Apesar de não ter sido um dos nomes favoritos, a escolha do cardeal Bergoglio foi das mais rápidas entre as eleições dos papas do último século. No segundo dia do conclave e à quinta votação, pelo menos 77 dos 115 cardeais, reunidos na Capela Sistina, concordaram no nome do arcebispo de Buenos Aires.

Dom Jaime Gonçalves, bispo emérito da cidade da Beira, Moçambique
Dom Jaime Gonçalves, bispo emérito da cidade da Beira, MoçambiqueFoto: DW/Marta Barroso

Também se sabe agora que Bergoglio já tinha sido o segundo cardeal mais votado no anterior conclave, que elegeu Joseph Ratzinger, o anterior papa, nomeado como Bento XVI e que renunciou em fevereiro passado, por razões de saúde.

Dom Jaime Gonçalves, bispo emérito da cidade da Beira, a segunda maior arquidiocese de Moçambique, e que foi um dos mediadores das conversas de paz entre os movimentos FRELIMO e RENAMO durante a guerra civil do país, está ainda surpreso com a nomeação do papa Francisco. "Estamos emocionados com a nomeação do novo papa, como ficamos emocionados com a resignação do papa Bento XVI. Por isso, neste momento em que vivemos estas emoções, espero que o papa venha a corresponder, de fato, às nossas ansiedades", disse Gonçalves, em entrevista por telefone à DW África.

O que se sabe sobre o 266° papa?

Primeira missa celebrada pelo papa Francisco
Primeira missa celebrada pelo papa FranciscoFoto: Reuters

O papa número 266 da Igreja Católica é tido como modesto, conservador e preocupado com os mais pobres. Mas a sua nomeação também já suscitou críticas por causa da controvérsia sobre a atitude da Igreja católica argentina durante a ditadura naquele país, entre 1976 e 1983.

Em 2010, Bergoglio foi ouvido como testemunha pela Justiça sobre a prisão de dois jesuítas. Os críticos do novo papa suspeitam de seu envolvimento no sequestro de dois missionários, que depois foram torturados e libertados após cinco meses.

Dom Filomeno Vieira Dias, bispo de Cabinda, em Angola, considera que o papa é um exemplo de simplicidade, atendendo ao seu episcopado em Buenos Aires.

"Apesar de vir de uma tradição religiosa que são os jesuítas, dizemos que quem está na Igreja pode estar tanto nas grandes universidades, em grandes centros de estudos, de investigação como pode estar também nos ambientes mais simples, humildes, pobres, de maior desafio e de confronto com a pobreza, com a dor e com o sofrimento", esclarece Dom Filomeno Vieira Dias.

Para Marcos Macamo, presidente do Conselho Cristão de Moçambique, organização que congrega 24 igrejas, é o começo de um outro dinamismo. "Sabemos que este papa é um jesuíta, conhecemos a história dos jesuítas em Moçambique. São pessoas dotadas de muita inteligência, analisam profundamente questões teológicas. Eles têm uma outra visão do mundo. Os jesuítas, por onde passaram, a questão da formação humana mais profunda é notória. Então, eu queria juntar estes elementos todos e formar uma teoria de muita esperança e expectativa", acredita Macamo.

As expectativas em África

Foto histórica do papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio
Foto histórica do papa Francisco, o argentino Jorge Mario BergoglioFoto: Reuters

O papa Francisco é o primeiro líder da Igreja do hemisfério sul ou, como o próprio disse, "do outro lado do mundo". É símbolo das igrejas jovens, na opinião do bispo emérito da Beira, em Moçambique. Dom Jaime Gonçalves espera, assim, que o novo papa continue a valorizar as igrejas jovens que são, explica, da América Latina e de África.

"Esperemos que o novo papa crie oportunidades, reconhecimento, respeito, valorização das igrejas de África que estão também à procura do seu lugar para contribuir com a cultura, com a civilização, com reflexão teológica", afirma dom Jaime. Para o bispo emérito da Beira, estas igrejas "estão também dispostas a amadurecer as suas estruturas próprias que começam pela aceitação dos próprios africanos na Igreja, seja africanos como cardeais, como bispos, com as dioceses de África."

O anterior papa, Bento XVI, esteve duas ocasiões no continente africano. Em 2009, foi aos Camarões e a Angola e em 2011, ao Benim.

Em conversa à DW África, Dom Jaime Gonçalves recorda sobretudo o papa João Paulo II que, em diversas vezes, esteve em África, inclusive em Moçambique (em 1988).

"O papa João Paulo II conheceu a Igreja Universal, como a igreja que está nos continentes e nos diversos países, com a sua cultura, com a sua civilização, com a sua reflexão teológica e até manifestações ligúricas da nossa cultura. Isso foi bonito porque, de facto, João Paulo II deu muita alegria aos cristãos. Francisco, se também seguir a mesma via de visitar a África, irá ter um conceito mais verdadeiro e provavelmente de mais Igreja", acredita Dom Jaime Gonçalves.

Os primeiros rosários junto da foto do novo papa já estão a venda no Vaticano
Os primeiros rosários junto da foto do novo papa já estão a venda no VaticanoFoto: Reuters

Opiniões nas ruas de Moçambique

O bispo emérito da Beira sustenta que o papa Francisco é pouco conhecido no seio da comunidade católica de Moçambique. Apesar disso, a notícia da eleição do Sumo Pontífice foi tema de destaque na comunicação social do país. E nas ruas de Maputo, a DW África escutou as expectativas para o próximo pontificado:

"Talvez com o novo papa, por ser mais novo, acho que as coisas vão mudar. A maneira de trabalhar nas igrejas, o comportamento dos padres e crentes terá de mudar", acredita um homem. Para este outro, trata-se de uma renovação da Igreja: "É um momento em que a Igreja se abre para novos horizontes e procura responder às realidades que o mundo atual exige."

Uma mulher disse à equipe de reportagem que acredita que tratar-se de uma boa escolha por ser argentino, fora da Europa. "Ele tem muitos desafios, entre os quais, a pedofilia da qual alguns padres são acusados. Ele deve tentar combater isso. Outro desafio é tentar dar mais dinâmica à Igreja Católica", diz a mulher.

O primeiro papa latino-americano da história será oficialmente entronizado num missa marcada para a próxima terça-feira (19.03) na Basílica de São Pedro.

Autores: Glória Sousa (com Leonel Matias, de Maputo, e Manuel Vieira, de Luanda)
Edição: Bettina Riffel / Renate Krieger

Católicos africanos lusófonos acreditam em renovação com novo papa Francisco