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Perda do grau de investimento pode agravar recessão

Karina Gomes10 de setembro de 2015

Rebaixamento da nota brasileira pela Standard and Poor's eleva desconfiança dos mercados e, segundo especialistas, ameaça afetar o real. Deutsche Bank prevê cenário pessimista, especialmente para Petrobras.

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Foto: picture-alliance/abaca

Em abril de 2008, a agência de classificação de risco Standard and Poor's (S&P) colocava o Brasil na lista de países confiáveis para os investidores estrangeiros. Com o alívio da dívida fiscal e externa e as boas perspectivas de crescimento, o país ganhou o chamado grau de investimento, termômetro de confiança do mercado internacional. O status de bom pagador, no entanto, durou até quarta-feira (09/09). "Nós temos agora menos convicção na política fiscal brasileira", disse a S&P em comunicado. A nota do país foi rebaixada de BBB- para BB+, com perspectiva negativa.

"A retirada do status de grau de investimento, que foi conquistada duramente, pode agravar ainda mais a recessão econômica", avalia a economista Simone Schotte, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo. "Agora será mais difícil para o país adquirir novos recursos no mercado de capitais. Além da recessão econômica, a profunda crise política é decisiva para aumentar o pessimismo das agências de rating."

Para a S&P, a proposta do Orçamento de 2016, com previsão de déficit de 30,5 bilhões de reais (0,5% do PIB), evidencia o desequilíbrio das contas públicas e enfraquece a "situação de crédito" do país. A agência argumenta que as medidas fiscais adotadas pelo Planalto representam um grande risco associadas aos "efeitos das investigações de corrupção da estatal Petrobras" e a "dinâmica do Congresso."

"O Brasil corta gastos públicos numa economia que já está em crise. Esse reforço da crise leva à diminuição da arrecadação dos impostos, o que torna o objetivo de redução do déficit fiscal muito improvável", explica Barbara Fritz, economista do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim. "Isso diminui a credibilidade da economia e leva as agências a duvidarem da posição brasileira."

A extensão das consequências do rebaixamento, principalmente nos fundos de pensão, vai depender do posicionamento das outras duas principais agências de classificação, a Moody's e a Fitch, que ainda mantêm o grau de investimento do Brasil.

Analistas do Deutsche Bank, uma das maiores instituições financeiras do mundo, com sede em Frankfurt, na Alemanha, esperavam o rebaixamento apenas para 2016 e receberam a notícia com surpresa. O banco alemão prevê um cenário pessimista, com destaque para a crise na Petrobras.

"A Petrobras pode perder seu grau de investimento, até com vendas forçadas. Isso deve ocorrer com outras empresas, públicas e privadas, exacerbando a liquidação de ativos", diz um comunicado a investidores nesta quinta-feira (10/09).

Os economistas destacam que as propostas de corte de gastos do ministro da Economia, Joaquim Levy, enfrentam "resistências enormes" no Congresso. "O enfoque do governo em apostar numa intensa transparência do Orçamento e negligenciar um aperto mais profundo aparentemente foi um tiro que saiu pela culatra", analisam.

Governo precisa “acordar”

"Rebaixamento e crise devem, no pior dos casos, intensificar ainda mais a desvalorização do real", avalia Fritz, que acha pouco provável que haja uma crise cambial. Nesta quinta, o Banco Central anunciou intervenção para conter a alta do dólar, com leilão de venda da moeda americana.

Fritz diz, porém, que empresas alemãs, por exemplo, podem deixar de investir no momento, diante da conjuntura negativa, mas esse cenário não será permanente. "Se vão deixar o Brasil, duvido", opina. "Essas empresas têm um compromisso de longo prazo com o Brasil. A crise econômica é acentuada, mas não vai durar eternamente."

Para Schotte, a estagnação econômica, a queda de previsão de crescimento da China – maior parceiro comercial do Brasil –, a constante depreciação do real desde meados de 2014, devido à redução do fluxo de capitais, e o escândalo de corrupção na Petrobras já eram um prenúncio da queda de confiança de agências de risco.

Segundo a especialista, a deterioração na classificação de crédito também é sintoma de uma crise no mercado financeiro. A elevação da taxa Selic a 14,25%, para conter a inflação, afeta negativamente as atividades de investimento das empresas nacionais.

"O aumento dos preços, empréstimos caros e a elevação do desemprego podem levar à redução no consumo, considerando, principalmente, o já elevado nível de endividamento de muitas famílias no Brasil", explica. "O rebaixamento não é uma surpresa e também não é o verdadeiro problema. O governo precisa acordar para os fatores que levaram à redução."